Tuesday, September 30, 2008

O adeus às armas

Comecemos com um lugar-comum: tudo o que começa tem um fim. E, por agora, deixemo-nos de estórias para irmos straight to the point: o Formal Slang acaba hoje, com este post.

Ao longo das várias crises cíclicas que me apanharam a mim e ao blog, fui percebendo que não há nada como obrigarmo-nos a escrever para as falhas de inspiração serem preenchidas (se não com palavras brilhantes, ao menos com palavras). É por isso que a disciplina e a exigência de escrita se treinam todos os dias, ainda que na maior parte deles o resultado não seja bonito de se ver/ler. Quero, com isto, apenas dizer que não deixei nem deixarei de escrever. Primeiro porque não seria capaz, segundo porque não me reconheceria (outras razões haveriam a apontar, mas fiquemos por aqui). Mais tarde ou mais cedo volto a isto, noutras paragens. Esta fica por aqui – teve o seu tempo e a sua importância (pessoalmente tão grande que não adianta tentar explicar), mas deixou de fazer sentido. Só isso – deixou de ter o lugar que merecia, em mim.

Deixemo-nos de lamechices: até a uma próxima. Foi bom, foi muito bom. Fica aqui o diário que não tive, em forma de bocadinhos de crescimento. Fica aqui uma parte de mim, portanto, mais ou menos bonita consoante os dias, mas seguramente muito feliz no seu todo.

Até a uma próxima meus senhores, até. Até breve.

Sunday, August 17, 2008

Intervalos de ti.

Foi contigo e com os momentos em que não te tive - mais, até, com estes - que vivi a fase crítica da adolescência. Que a construí, que me obriguei a ser como todos os todos, a ser normal nos sentimentos e nos desejos. Conheci-te algures num dia perdido da infância, entre brincadeiras e recreios de areia, mas só te re-conheci quando precisava desesperadamente de ti. Tu percebeste e gostaste, fizeste-me perceber e gostar também e arrastámo-nos os dois entre promessas tácitas e empurrões falsos. Quis-te mudar como se muda a mobília de um quarto ou se altera a forma de arrumar a roupa num armário. Quis-te - todos os dias, dia após dia - mas não te quis. Queria o teu outro lado, o lado que eu insistia que via, que eu insistia que havia. E via - oh, se via! -, e sabia-o real, mas, só para me contrariares (gostas disso, tu), quanto mais eu o procurava mais tu o negavas. Foi nestes intervalos de ti que te amei. Foi nos reflexos do teu outro eu, nas vertigens dos teus dedos e da tua alma, nos momentos em que o teu rosto me fitava calado, na tua demanda absurda de negar as palavras. Escrevi-te promessas e escrevi-nos, vezes sem conta, até desbotar o papel. Amarrotei-o na palma da mão e levei-to, meia acanhada, meio nervosa, meio ansiosa. Leste e sorriste, fizeste comentários sobre a forma, a composição, a gramática em geral e a escolha do tempo verbal em particular - isto sem nunca, nem por um bocadinho, aludir ao conteúdo. Tem graça que - que irónica, a vida - quanto mais me negavas a conversa franca, mais nos misturávamos com a estória, com a nossa estória, e nos fundíamos numa simbiose tão perfeita que se tornou indissociável. Acontece que, entre malabarismos e contornos abertos, nunca te disse a verdade: não tenho pretensões de lhe/nos escrever um fim ou de lhe dar futuro. Há um dia em que, simplesmente, ela não mais vai sair da gaveta. Vai, simplesmente, perder-se entre outras coisas. É por isso que eu sei que é a adolescência pura e lixada a pregar-me a devida rasteira - porque nunca nos entrevi entre as linhas do futuro - não contigo, pelo menos, talvez com o teu outro eu tenha vislumbrado uns raiozinhos ténues de vida. Ah, ter o mundo concentrado num frasquinho! Obrigada por isso, meu caro, obrigada pela adolescência. Mas, sabes, começa a ser hora - o cartão de eleitor já espreita na carteira e as exigências não me permitem o habitual desgaste quotidiano que, convenhamos, era um luxo desnecessário.
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Claro que podes sempre vir comigo,
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mas não te aconselho. Deixa-te estar que estás bem. Eu levo a gaveta e levo a criança que há em mim pela mão, a servir de escudo. Começa a ser hora, começa - Lisboa, querida e desgraçada Lisboa!
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Friday, July 18, 2008

É isto.


Há momentos em que os desafios são tão grandes que não lhes vemos os contornos e, por isso, sentimos que, de alguma maneira, nem sequer nos pertencem. São-nos exteriores, mesmo quando os estamos a viver. E, por isso, vamo-nos desprendendo de pequenos desafios, para ver se conseguimos espaço para os grandes – é uma atitude errada e perigosa. E a negação do medo não adianta: é ele que nos move – medo, ansiedade, curiosidade, adrenalina. Só depois, numa segunda fase, já sob a designação de recordações é que nos apercebemos que éramos nós – raios, éramos mesmo nós! – e que, seja qual for o desfecho, fomos os protagonistas da nossa estória.
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Fim de uma etapa.

Wednesday, July 02, 2008

Entre nós.

XII Capítulo de uma estória que não é para ser publicada na integra.

Concerto.

(Dar as mãos não é apenas entrelaçar os dedos – desengana-te se achavas que sim. Dar as mãos é, mais do que tudo, ter vontades comuns. Não gosto que me encostem à parede com palavras. Ainda assim, agrada-me um bom desafio. Começa o que não disseste demónio, diz o que tens a dizer! Só jogando limpo é que chegaremos a bom porto. Garanto-te, não há nada mais estimulante do que a transparência. E, apesar de ela não querer, eu confio em ti.

Faz-me um sinal qualquer, um balanço de ancas, um jogo de joelhos, um aceno subtil de cabeça. Faz-me o que gostarias que te fizessem, se te vissem falar de mais. Confesso – eu às vezes embarco em conversas banais. E, pior, em pensamentos tipificados e em atitudes estereotipadas – embarco na vulgaridade que se espalha por aí, pelas monstras das lojas e nos sacos de supermercado que embatem contra as nossas pernas nos passeios, expulsando-nos para a estrada e assumindo-se donos e senhores daquilo que diríamos nosso – que se espalha por esse mundo fora. Frágil, esta noite estou tão frágil. Quebro por dentro, não limpo os cacos. Há nuvens de fumo a entrarem-me pelo nariz e a saírem pelas orelhas. Estalo a língua no céu da boca e cruzo os dedos dos pés. Põe-me o braço no ombro, dá-me qualquer coisa de teu: as mãos, o cabelo, o rosto. Envolve-me, cria fisicamente uma ligação comigo; torna-te, nem que seja apenas por um momento, uma continuação de mim. Sim, eu preciso de alguém, eu preciso de ti. Preciso de nós. Só assim me poderei dar a alguém – quando isso significar não me dar a ninguém, porque, no fundo, quem me recebe sou eu mesma, mas em ti. Percebes?)
* Jorge Palma a itálico

Saturday, June 28, 2008

Intervalo de pano

Do outro lado da rua está uma mulher a tocar violino. Não é artista nem música de profissão – ganha apenas a vida a tocar violino. Foi autodidacta, tudo o que sabe aprendeu em livros ou de ouvido. Talvez por isso os erros técnicos sejam frequentes e notórios, o que não significa que a melodia não seja interessante e que a expressividade não compense tudo isso (os enganos, o cheiro, o cenário…). A violinista (apesar de tudo, é-o) tem duas crianças – lindas, lindas, sujas e lindas! – filhas de pai incerto. Não foram fruto de nenhuma paixão cinematográfica e cor-de-rosa. Nasceram, sim, das necessidades do corpo (é preciso falar destas coisas com naturalidade, segundo o que oiço dizer). Carência. Pura carência, a todos os níveis – que o prazer físico não resolve, mas ajuda a disfarçar. As crianças, essas mais dadas à moral (que, não sabendo o que é, usam por natureza), descobrem-se nos carrinhos de lata com que brincam

Que sei eu, disto tudo? Estou apenas do outro lado da rua, parada a olhar para uma mulher a tocar violino. E, por instantes, os meus preconceitos vêem com clareza as duas crianças, a barraca modesta (até para barraca), a mulher nua, na cama, a gemer, as moedas pretas que comprarão o pão. Tudo isto é natural – que assim seja e que eu o pense sem, na verdade, o saber. É tão natural que me mete nojo e me agonia.

É tão natural que me mete nojo e me agonia.

Saturday, May 31, 2008

Expliações. E narcisismo.

"- Shiu. Anda cá. Dá-me a mão. Tens os dedos frios! Shiu, tem calma. Toma-me. Escreve em mim, escreve sob mim, sobre mim, sobre nós. Não percebes que o não consegues evitar? Ou isso, ou nada. Deixa as tuas personagens descansar, também têm vida, também têm falhas, exiges demasiado delas. Deixa-te estar aqui, um bocadinho ao pé de mim. Vamos, agarra na inspiração que te dou e besunta-me de palavras. "

Não percebes que já o fiz? Passo o tempo a fazê-lo. Mas não posso publicar isso, não posso mesmo. Sim, sou egoísta, e depois? No dia em que o fizer é porque nos ultrapassei.

"- Enganas-te. Esse dia significará apenas que nos assumiste."

Ou isso. Mas como posso eu fazê-lo se tu não o fazes? Além do mais, faço-o todos os dias. Todos os dias me assumo em ti e deixo que te assumas em mim. O que é que os outros são chamados ao caso? Deixemo-nos de conversas. Aquela estória não vai sair da gaveta. Pelo menos para já, pelo menos por agora. Daqui a um tempo, quem sabe, daqui ao tempo em que eu me sentir confortável com isso.
...
Peço desculpa. Peço desculpa por vos privar do melhor que alguma vez escrevi, peço desculpa de não publicar "há que tempos" - e, a verdade, é que nunca andei tão envolvida nem nunca escrevi tão compulsivamente. Acontece que, ao contrário da Maria que se ia construíndo capítulo a capítulo (e que continua a construír-se e a aparecer de vez em quando), as duas estórias que ando a desenvolver já apareceram em mim completas - e não posso permitir intromissões externas até as ter prontas. Seja como for, uma está quase e deve aparecer em breve: já aqui fazia falta uma estória sequêncial e já me fazia falta a mim o compromisso disso e o trabalho que envolve. Não deixem, portanto, de vir, por favor. A sério que está para breve.

Thursday, May 08, 2008

Prioridades de meninice

É uma criança bonita, sorridente. Aproxima-se da cabine, põe-se em “bicos dos pés”, estica-se toda e consegue que a mãozita tímida apareça ao balcão e se torne visível para quem está do outro lado. Deixa cair as três moedas que tem entaladas entre os dedos de modo a rolarem e a fazerem barulho e pede, na voz melodiosa de quem ainda é acompanhada por fadas:
“ – Um bilhete para o carrossel, por favor”.
O barulho da feira obriga-a a repetir a pergunta.
“- Um bilhete, por favor”.
Sente o papel rugoso contra a pele e afasta-se, sem mais palavras. O carrossel é dos antigos, com cavalos de madeira pintada suspensos num bonito varão, de duas cores entrelaçadas. O toldo é vermelho e branco, como não podia deixar de ser. A criança fica parada, durante várias voltas, a apreciar uma magia que nem toda a gente vê. O colorido veloz brilha nos olhos dela e o bilhete é apertado com as duas mãos, enquanto o boneco de trapos espera, inexpressivo, debaixo do braço esquerdo.
A hora de jantar aproxima-se e, apesar de ainda haver a claridade do lusco-fusco, o movimento esmorece. O carrossel pára e prepara-se para um intervalo. A menina, que até aí não tinha saído do seu lugar, aproxima-se do maquinista e diz:
“ – Eu ainda não gastei o meu bilhete”.
O senhor, já velhote, derrete-se.
“ – Sobe que eu ligo-o. O motor ainda está quente, não custa nada”.
A menina aproxima-se do cavalo mais pequeno – um pónei, ainda – e prende o boneco a uma das pegas de metal, onde é suposto as crianças medrosas segurarem-se.
“- Então, tu não sobes? Precisas de ajuda?”
“- Ele é que quer andar. Eu só quero ver”.
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Wednesday, April 30, 2008

Parlamento dos Jovens Nacional, 2008

Há coisas que não se escrevem – porque tão-pouco se descrevem. Há cadeiras que nos ajudam a ultrapassar muros (físicos e intelectuais); há conversas em que, simultaneamente, ao descobrirmos o outro, nos encontramos a nós; há teatros cómicos onde o nosso riso não encontra lugar para estranhamente, depois, mais tarde, não se conseguir controlar no meio da marginal; há lugares e ocasiões em que nos sentimos plenos, confortáveis, bem. Isso mesmo – bem. Tanto que nos damos ao luxo de comentar, connosco próprios: "É isto, é isto mesmo." - E não sentimos medo nem dúvidas nenhumas.
Há dias que não queremos que acabem, embora estejamos fartinhos de saber que isso é impossível e infantil. Ainda assim, sentimos saudades e melancolia quando acabam mesmo – para dar lugar a outros, claro está, para dar lugar à rotina: com tudo o que isso tem de melhor e de pior. Mas concentremo-nos no melhor: na perspectiva de outras rotinas que, pelo menos nos primeiros tempos, serão novas.
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Thursday, April 17, 2008

Uma missão

“- Olhe, desculpe, o senhor acredita que podemos mudar o Mundo?”
Iam de ombro em ombro, de pessoa em pessoa, sempre com a mesma pergunta nos lábios. Sorriam, mostravam-se simpáticos. Andaram de passeio em passeio, de rua em rua, de quarteirão em quarteirão. De tempos a tempos, uma resposta que balançava entre a ironia e a simpatia. De tempos a tempos, uma resposta divertida. De tempos a tempos, um desabafo. Na maioria do tempo, o desprezo, a ignorância.
A Maria e o Adulto Jovem tinham uma missão e sabiam que não voltariam a sentarem-se na sombra do prédio antes de a cumprirem. Não porque ganhassem alguma coisa com isso, não porque fosse, sequer, necessário – deviam-no a si mesmos, tinham combinado que o fariam: só por isso.
O tempo estava estranho. Havia uma chuva miudinha a irritar-lhes os cabelos e o campo de visão, fazia frio e calor ao mesmo tempo, o ar estava pesado e custava a respirar. Ainda assim, no intervalo da abordagem entre duas pessoas, eles riam-se. Sem motivo, sem nenhuma razão óbvia. Riam-se porque lhes apetecia e porque, quer eles quisessem quer não, a situação era quase surreal.
Foi o AJ que encontrou a primeira pessoa. Uma senhora pequenina, com ar de mãe atarefada, de meia-idade e meia classe – sim, uma senhora claramente de “meia”. Foi ela que lhe disse:
“- É o que estamos a fazer”.
Ele aceitou a resposta e partiu para a segunda parte:
“- E salvá-lo, podemos?”
“- Primeiro precisamos de nos salvar a nós. Quer dizer, temos que ir fazendo as duas coisas – já não há tempo para podermos ser mariquinhas.”
O AJ acenou com a cabeça, apontou em frente, chamou “-Maria!” (que se lhes juntou a correr), ofereceu o braço à Senhora-Meia e puseram-se os três a caminho do ponto de encontro.

Saturday, April 12, 2008

Ensaio

A Maria acordou com o silêncio e com o desconforto que se sente quando já se está habituado aos olhares esguios dos outros e, de repente, se passa a ser uma pessoa normal. Esfregou o rosto, ensonada, passou a mão pelos caracóis e sorriu para o Velho (que retribuiu). Só depois é que reparou nos outros: naqueles que, durante o seu descanso, se haviam sentado ao longo do prédio e conversavam animadamente uns com os outros. Bem, nem todos, é preciso dizê-lo. Havia quem permanecesse absorto a tudo, a fixar um ponto não definido. O mais estranho do cenário, porém, nem era isso. Era a multiculturalidade. As diferenças. Ricos, pobres, deficientes, afectados, de todas as nacionalidades, de todas as cores, de todas as idades, de toda a gente. Sim, de toda a gente – não a gente toda mas de toda a gente.
A Maria, com as mãos em concha, perguntou ao ouvido do Velho:
“- O que é que se passou aqui?”
“- Nada de especial, pequena. Esta gente estava cansada e sentou-se.”
“- Assim do nada, lembraram-se?”
“-Assim do nada não – a vida cansa, desgasta-se. Por vezes temos que nos dar tempo. Percebeste?”.
Ela acenou que sim. E percebia. Tanto que, para o provar, tocou no ombro do adulto jovem que estava sentado ao seu lado esquerdo e, quando ele virou a cabeça com uma expressão interrogativa, lhe perguntou:
“- Ainda acreditas que podemos mudar o Mundo?”.
Ele piscou-lhe um olho e respondeu:
“- Por algum motivo estou aqui sentado. Está na hora, é?”
“-Está sim. Vamos?”
E levantaram-se, apoiando-se um ao outro.

Tuesday, April 08, 2008

Aparição

A Maria caiu no meio de uma movimentada rua de peões de uma metrópole capitalista qualquer, onde começou imediatamente a ser pisada e empurrada pelos transeuntes. Era como se não existisse. Pior, era como se não devesse existir.
Agarrou em si e sentou-se, muito encolhida (com as mãos a segurarem os joelhos e a cabeça pendente para a frente), na esquina de um prédio alto e com a pintura desgraçada pela poluição do ar. Deixou-se ficar durante tempo indeterminado (mas que pareceu muito), a ouvir excertos de conversas alheias, o ruge-ruge das calças de ganga novas e dos sacos de supermercado e a observar as beatas de cigarros ainda acessas a serem esmagadas por diferentes tipos de saltos-altos.
Foi neste intervalo que, sem que a Maria se apercebesse, um senhor de cabelos brancos e rugas na cara se aproximou dela, com duas mantas dobradas deixado de um braço e um jornal na outra mão. Ficou, num momento de pausa, a observá-la e disse:
“- A menina está a pedir sozinha? Olhe que a si ninguém lhe dá nada! É jovem e forte, pode perfeitamente trabalhar – pensam eles. Ninguém quer saber o que aconteceu consigo”.
A voz era doce e meiga, inspirava confiança. A Maria percebeu que aquele Velho a percebia* e respondeu:
“- Não estou a pedir dinheiro”.
O Velho sorriu (tristemente) e passou-lhe a mão pelos cabelos:
“- Aqui ninguém sabe dar outra coisa. E, às vezes, nem isso.”
Olhou para o céu e para uma montra onde dois manequins de plástico se olhavam de forma vazia (eram de plástico, pois então!) e, depois de um suspiro, sentou-se ao lado da Maria, tapando as pernas de ambos com uma das mantas.
A Maria, silenciosamente, sem pedir (nem com gestos), encostou a cabeça ao ombro do Velho e dormiu. Ele deu-lhe a mão e pensou de si para si:
“- Depois falamos pequena. Agora descansa.”
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* repetição intencional
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Wednesday, April 02, 2008

Voo de baptismo

A Maria gosta de extremos. Descobriu isso no outro dia, enquanto se passeava pelas ruas de uma cidade grande e sentia, ao mesmo tempo, vontade de chegar o nariz ao tubo de escape dos carros e de se roçar nas árvores. Não gosta de tudo – mas gosta de muitas coisas. E sente, quando está sozinha, que não consegue decidir que tipo de vida quer, que não sabe ao certo a diferença entre o bem e o errado. Finge que sabe, para não decepcionar ninguém. Mas, na verdade, tem mais dúvidas do que aquelas que sabe exprimir por palavras.

Sentada no baloiço, lê um jornal antigo que apanhou do chão. Está sujo e muitas das palavras são ilegíveis. O que o tempo faz às coisas! Vê os títulos, ri-se baixinho da sensação de “eu sei o que aconteceu depois disto” – quase como se tivesse voltado atrás no tempo e estivesse a adivinhar o futuro. Vai ficando escuro e ela não dá por nada. O Sol esconde-se atrás das nuvens de Outono e arrefece. A Maria aperta os botões do casaquinho e larga o jornal – agora sim, impossível de ler – e põe-se a balançar. Primeiro, com as pontas dos pés presas ao chão – só um leve movimento de banco; para trás, para a frente, para trás, para a frente. Depois, à medida que vai ganhando confiança, solta-se. Para trás, para a frente, sentir o vento na cara e a alma em voo livre, cada vez mais alto. Impulso de pernas, força nos braços e flexão abdominal. O céu cada vez mais perto, o céu cada vez mais próximo! Atinge o pico de altitute, fecha os olhos e larga as correntes: para quê segurança quando não há perigo? Abre os braços e plana, em direcção ao horizonte.
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(Ou, pelo menos – e não adianta de nada sermos românticos só por desporto – em direcção à sua noção horizonte).
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Tuesday, April 01, 2008

Encruzilhadas

Não interessa o que a vida quer de nós (ou, por outro lado, hoje não me apetece que interesse). Interessa, sim, aquilo que nós queremos dela. Se as nossas vontades são ou não coerentes, é cá connosco – e, aí sim, ninguém tem mesmo nada que mandar palpites.

Desejo-te. Tenho vontade de te agarrar pelos ombros e de te levar ao céu, de te tocar, de ser tocada, de nos sentir. Prolonga-me. Percorre-me. Faz de mim mulher num só beijo. Por fim, deixa-me dormir com o teu braço a servir de almofada. Toca-me no rosto com as pontas dos dedos, olha-me e diz-me uma lamechice qualquer, típica. Que o Sol nasça, sem trazer consigo a racionalidade perdida/esquecida. Vamos ver mundo, vamos ter o mundo nas palmas das mãos.
Sou feliz só por prazer.
Desejo-te.
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Saturday, March 22, 2008

Ao som de um Baloiço

Nota: Evitem-se comentários sobre o facto da Maria me voltar a assombrar e tirem-se as teimas: ela nunca me largou. E pronto, ou eu escrevia sobre ela ou ela não deixava sair mais nada. Sim, dobrei-me às vontades de uma personagem.
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Há um baloiço parado no meio do jardim – parado não, abandonado. De tempos a tempos, o balanço do vento faz com as ferragens velhas chiem e, o som natural da velhice, afasta os jovens pássaros que por ali poisaram, a descansar das brincadeiras aéreas. São eles a vitalidade do quadro – quando se vão, a paisagem morre, deixa de fazer sentido.
À volta do jardim, a cidade cresceu. Os carros passam, os prédios roubam-lhe o Sol, as pessoas apressadas deixam de ser pessoas para passarem a ser parte integrante de um projecto maior – a civilização. O jardim, mirrado pela força das circunstâncias, deixa-se invadir pelos não-cuidados e cede às ervas daninhas e ao (des)ordenamento casual. Ainda assim, tem o dom de não perder a essência e mantém-se um oásis de valores.

É assim que a Maria o encontra – esquecido, perdido, abandonado. Depois de se ter posto a caminho, depois de ter deambulado dias/meses/anos sem grande rumo, achou-se naquele jardim, por acaso(?). Novamente os bancos, típicos. Novamente um cenário insólito e estranho, desconfortável. Novamente a sensação de derrota. Novamente a assombração do medo.

Descortinou, entre as ramagens crescidas e densas das árvores e arbustos, o baloiço. Lembrou-se dele, perdido entre as banalidades que a memória tem tendência a guardar. Lembrou-se, mas não em pleno: apenas uma imagem, quase fotográfica, longínqua. Não sem esforço, chegou até ele, afastou três ou quatro folhitas secas e sentou-se. Encostou a cabeça à corrente esquerda de suspensão e deixou-se ficar.

Ter a infância como casa – oh, ter a infância como casa.

Wednesday, March 12, 2008

PJ 2008

É tão bom ter entusiasmo nas pontas dos dedos e andar por aí a tocar nas pessoas, a vê-lo passar de nós para quem nos rodeia. É tão bom, é mesmo bom! – saber que não acaba aqui, que (finalmente) vamos conhecer a parte que faltava e preencher o último separador do dossier. E, mais importante do que tudo, saber que o “isto não fica por aqui” não significa apenas a Assembleia da República: significa que o Projecto, pelo menos a curto/médio prazo não morre. Conseguimos, e esta é a grande vitória, construir um grupo de trabalho coeso, criar laços, deixar por cá a vontade de continuar.

Encho os pulmões até doerem e, depois, deixo sair o ar, devagarinho. Experimento um sentimento (que se traduz mesmo em sensações específicas) que não cabe em mim, que se manifesta da cabeça aos pés e sai cá para fora. É orgulho, felicidade e bem-estar conjugados numa simbiose perfeita, atada com uma coisa chamada “querer muito” (sonhos?). Há fases em que a vida é especialmente generosa connosco – nem que, para isso, tenhamos que esperar e bater muito com cabeça.

O meu Secundário não podia estar a terminar de melhor forma. E sim, começa a denotar-se uma ponta de melancolia…
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Obrigada.

Tuesday, March 04, 2008

O meu avô.

Cabelo branco (mesmo branco, fininho), rugas e traços marcados – poucos são os anos (sim, poucos!) mas, enfim, bem vividos e com personalidade de artista: daí a pintura que lhe fizeram no rosto. O meu avô é um senhor. Ri com gosto, come com prazer, dorme honestamente e de boca aberta no sofá. O meu avô é um Homem, um verdadeiro Homem – tem bom coração, altos nas mãos, gosta de nós como se fossemos o Mundo (seremos?), não diz nada mas comove-se muito por dentro, sozinho, em silêncio.
Gosto muito dele. Mesmo muito. Gosto quando põe o braço por cima dos ombros da minha avó e voltam os dois a ser de tenra idade, gosto quando recordam histórias, nomes, lugares. Gosto quando ele ouve mal e eu tenho de repetir mais alto, Gosto quando brinca comigo. Gosto que ele seja assim, o meu avô, o meu querido avô. Gosto quando os olhos dele brilham.

Hoje, ao almoço, queixou-se de que as ideias o não deixam dormir, que pensa demais e dorme de menos: “- Ideias de velho, aqui às voltas, sem me deixarem fechar os olhos”. Devia ter-lhe dito (mas sou pateta e fiquei calada) que as ideias de velho são isso mesmo – ideias de velho – o que, por si só, não faz delas ideias velhas.
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Saturday, March 01, 2008

desabafo

Tremo de febre, de sono e de ansiedade. Tremo do esforço de dar supremacia à racionalidade, tremo, tremo, tremo. De cansaço, da cafeína acumulada, dos nós dos músculos.
Deliro enquanto escrevo. Que vai ser de mim? E daquilo que sonhei ser?

Não sei como dar continuidade a este blog – pronto, está dito. Tentei mudar de caneta, de bloco, de posição, de disposição. Não sai nada, tenho tudo o que já li e escrevi a encravar-me as entranhas. Sequei.

Digam-me que isto é uma crise cíclica. Digam-me. Por favor.


Sunday, February 17, 2008

Há cá coisas.

Há cá coisas que não me entram na cabeça nem me deixam respirar em condições – há cá coisas. Há cá coisas que não fazem sentido e me apertam toda, me apertam toda porque não são úteis, nem práticas, nem coisa nenhuma, nem coisa nenhuma porque também o não têm de ser, não têm de ser mas são sem serem nada.
Há cá coisas que me agitam e me mortificam ao mesmo tempo – porque, não sendo nada, são detentoras de mais existência do que aquelas outras coisas que apertamos entre os dedos e encostamos à cara – e, essas, sabemos porque não somos loucos (ou porque o somos, tanto faz para o caso), são reais – tão reais que perdem mistério e magia e deixam, se não de ser reais, pelo menos de ser interessantes.
Há cá coisas que não merecem atenção – têm-na sem pedir licença. E mesmo que eu lhes diga “saiam daqui, não gosto de vocês, não vos quero e tenho dito!” ou, em voz doce e cantarolada “vá lá, não me importunem mais, vamos ser felizes cada qual à sua maneira”, não saem, não se vão embora, não me dão espaço, não me dão paz. Continuam vivas e em actividade, mesmo que eu as ignore e lhes feche as janelas com cortinas opacas. São teimosas, são rebeldes, são insolentes até! E dão-me cabe do juízo – mas o dia delas há-de chegar, à se há-de!
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Há cá coisas. Há cá cada coisa.
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Tuesday, February 12, 2008

Praga - there.


(Num sussurro)

“- Fecha os olhos. Não, espera, antes disso quero que guardes a imagem de Praga à noite, vista da varanda do Castelo. Não sabes onde fixar os olhos e não consegues que eles abarquem todos os pormenores? É normal minha cara, é mesmo assim.
Vamos, fecha-os agora. Eu levo-te Escadas Douradas abaixo, uma a uma. Vamos, vamos! Deixa que a cidade entre em ti.
Chegámos à Ponte Carlos. Permanece de olhos fechados – e não vale a pena teres medo. Eu sei que o ambiente tem qualquer coisa de kafkiano, chega a ser místico e um pouco tenebroso – porém, belo.
Perguntas se as estátuas estão a apontar para ti? Evidentemente! Estão agora à tua volta, sempre a apontar. Deixa que te circundem, sempre sem medo (da tua parte). Todas elas são o retrato de santos que, mesmo que um dia tenham existido, nunca foram humanos e, portanto, não percebem que o que exiges de ti é tão ou mais transcendente do que a sua incontestável divindade.
Deixa-te estar e ouve a música. É Vivaldi, sim. Consegues perceber quantos violinos? Doze, nem um a mais, nem um a menos.
Abre o peito e deixar sair o sentimento que a Música Clássica te transmite. As estátuas estão a voltar para os seus lugares, venceste-as. Vão ficar aqui, onde sempre estiveram, a guardar o rio e atormentar turistas que nem se aperceberão da origem da súbita agonia.
Parece-me que chega, por hoje. Desperta todos os sentidos, vamos voltar à Portela.”

Thursday, January 31, 2008

PRAGA - Going to

Fecho os olhos e estou lá, na Ponte D.Carlos
Não é preciso mais nada, basta fechar os olhos.
A agulha com que tento inutilmente pregar o botão, traz-me de volta à realidade. A música da rádio é antiga e preenche-me o quarto. As gavetas, abertas, e vazias, fazem com que o olhar se desvie para cima da cama, onde, quietinhas e dobradas, as camisolas de gola alta convidam à divagação.
Tenho mesmo que as levar? Por mim bastava o pijama e as garrafas de vinho. E o meu candeeiro - estou com uma vontade absurda de o levar comigo! Há cor na luz, muito mais cor do que aquela que vê.
Cor, cor, cor.
Embrulho os botins e sinto o nariz frio. Sorrio. Fazer as malas é um acto de liberdade. Escrevo a última mensagem, ato o cabelo e desligo o telemóvel. Fazer as malas é mesmo um acto de liberdade.

Thursday, January 24, 2008

Toma jeito. Toma juízo.

Devolve o que me tiraste, repõe tudo, constrói de novo.
Dá-me o braço e corre comigo estrada fora, em contra-mão, empurrando pessoas, passeios e carros, e tudo o mais que nos aparecer pela frente. Leva-me a voar por cima das casas – desvia-te das nuvens, tolo, não vês que assim ficamos encharcados e temos frio?
Vamos, ajuda-me a abrir o fecho do vestido, nunca disse que era fácil mas não posso ficar com ele assim, molhado, junto ao corpo.
Vira a cara – não quero que me vejas agora, não quero que a tentação física te desvie do que realmente importa.
Vá, já podes, vesti o roupão e apetece-me dançar. Valsa? Tango? Rock and Roll? Não, não é isso: Zeca Afonso, apetece-me ouvir Zeca Afonso até me doerem os ouvidos (e é tudo o que aguento neste momento). Como é que se dança isso?! Com a alma meu rapaz, Zeca Afonso dança-se com a alma, com o corpo todo, com a mente: Zeca fervilha, é revolução bruta, forte! Dá cá a tua mão. Sente aqui, é o meu nervo do pescoço, viste? Isto sim, limpa-nos por dentro!
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Abranda, por favor, não aguento mais. Toma-me nos braços e embala-me, shiu, para trás, para a frente, para trás, para a frente, para trás… Já estou de olhos fechados e respiração normalizada? Então deita, com cuidado, a minha cabeça na almofada, aconchega-me os lençóis e arruma os teus chinelos naquela ranhura do móvel. Depois, sai, de mansinho, deixa-me um bilhete debaixo de uma chávena de café forte e uma fatia de bolo-rei ao lado. Não te esqueças da boneca Maria, quero-a sentada no sofá, de pernas-à-chinês (perpetua comigo a infância).
Não precisas de chaves, a porta está aberta. Vai à tua vida – e não te esqueças de voltar, a tua casa é aqui.

Wednesday, January 16, 2008

Não acreditamos no mesmo deus, não adoramos a mesma essência. Só isso. Eu acredito nas pessoas anónimas que passam por mim na rua. Acredito no meu vizinho, no padeiro, na mulher do carro do lixo, no costureiro. Acredito na estrela não conhecida de rock alternativo, no actor frustrado, no político calado. Acredito em todas as pessoas que não acreditam em si próprias e naquelas que, acreditando em si, não deixam de acreditar nos outros. Eu acredito na enfermeira, no homem da limpeza, no cozinheiro e na argumentista. Em suma ponto, acredito no Homem, em geral – ou, melhor dito, acredito na criança, em todas as crianças do Mundo – aquelas que, amanhã, serão professores, artistas, pedreiros, arquitectos, atletas, historiadores, senhoras e senhores de palavra e decisão.

Sim, a minha crença já sofreu muitos abalos, já me deu desilusões sérias (todos os dias, dia após dia). Mas e a tua? Não sofres quando vês alguém doente, quando vês o poder da violência de pequenos actos, quando pensas nos milhares de pessoas a morrer à fome? Não questionas o teu deus sempre que vês um cego a pedir uma moeda ou um garoto roto e descalço nas ruas da calçada? Não gritas com ele, não te revoltas, não lhe exiges que seja justo?
(Se não, devias).
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É tudo uma questão de fé, pois então. E eu tenho-a: é simplesmente uma fé agnóstica.

Wednesday, January 09, 2008

Minha querida:

A destruição iminente anda algemada com a nossa existência. Ainda assim, estamos constantemente a provocar a sorte, a atrair os problemas. A tendência para a auto-mutilação não nos dá tréguas.
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Somos frágeis, muito frágeis. Quebramos por nada, por pequenos incidentes. Guardamos uma mente de cristal num corpo de porcelana e, contra tudo o que seria razoável, passamos anos a acharmo-nos imortais. Ironicamente, são os anos em que nos provocamos, em que nos levamos ao limite. Não existe o “não poder/não dever”. A meta é o céu, antes disso somos apenas mariquinhas de saias.
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Até que, um dia, ganhamos medo. Muito medo, o medo frenético do arrependimento. Só nestes momentos é que percebemos o quão gostamos de nós mesmos (e de cá andar).
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A partir de agora, o objectivo é muito mais do que o céu: é a auto-absolvição. Marca a merda da consulta, quanto mais tarde pior.
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Sunday, January 06, 2008

Querer

Anda cá. Shss, não faças barulho, não vês que estão todos a dormir? Chega aqui à minha beira, como dizia a minha avó. (De que te ris tu? Bem sabes que tenho um fascínio por este tipo de expressões, acho-lhes piada!). Vá, anda cá. Tapa-te com este cobertor, partilha-o comigo (não o puxes tanto, não vês que assim fico com os pés de fora e tenho frio?), enrola as tuas pernas nas minhas sem que ninguém veja. Deixa as pessoas à nossa volta adivinharem que se passa alguma coisa entre nós – mas não lhes confirmes nada, é uma coisa nossa, só nossa, não precisa de andar nas bocas do mundo. Evita esse gesto – detesto que me cocem o couro cabeludo. Brinca antes com o meu nariz, gosto quando fazes isso. Podes dizer-me coisas bonitas ao ouvido, não precisas, mas podes, confesso que me agradaria. Chega-te mais, fica bem perto. Quero ouvir e sentir a tua respiração, quero tocar-te, quero acordar contigo ao lado, quero-te. Pronto, já disse, quero-te. Quero-te, quero-te. Quero-te. Não que goste de ti – não confundas as coisas, chego a detestar-te, tiras-me do sério, dás comigo em doida, irritas-me. Mas, aparentemente, és maior do que as minhas forças. Estou viciada em ti. Quero que me conheças os pormenores, quero que saibas tudo sobre mim e, ainda assim, te sintas insaciado, quero pôr-te a bater com a cabeça nas paredes, quero que não consigas tirar-me da cabeça, perseguir-te, acabar com a tua paz, destruir o teu sossego. Quero viciar-te em mim.

Pode ser?
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Tuesday, January 01, 2008

Estar (onde?)

Acordo. É de manhã, apesar do relógio me dizer o contrário. Iço o corpo, apoiada nos braços, afasto os caracóis do rosto e, enquanto isso, sinto frio, muito frio – fiz xixi na cama. Desato a chorar (mais molha, menos molha!) e deixo-me ficar, embalada no ritmo do meu próprio corpo. Há qualquer coisa que não bate certo, que não faz sentido. Estes não são os meus lençóis, este quarto não é o meu, não estou vestida com o meu pijama. Paro as lágrimas e deixo-me ficar calada, a conter soluços que me embatem contra o peito e ressoam (cá dentro ou lá fora?). Sinto-me como a Maria à beira do lago: assustada, pequena, infantil.
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Não sou daqui.
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Fotografia: http://olhares.aeiou.pt/___h_2_o___/foto1633954.html