Dá-me um beijo ruidoso na face. Abraça-me com força, até eu sentir a cabeça a andar à roda e os pulmões a implorarem por oxigénio e diz que gostas de me ver, que tinhas saudades minhas e que estou com um ar saudável de maresia e sonhos.
Dá-me tempo de olhar para ti. Sempre o mesmo, os mesmos tiques de intelectual, a mesma força meiga. Oh meu querido, que falta me fizeste!
Olha-me nos olhos;
“- Como foram as férias?”
“- Boas. E as tuas?”
“- Também”.
A cumplicidade transborda dos sorrisos, dos gestos, da alma. E o Mundo desvia-se de nós, de esguelha, de inveja.
Gritas-lhes que dor de cotovelo é uma coisa muito feia, dás-me o braço e levas-me para um jardim.
“- Tenho tanta coisa para te contar!”
Não precisas, eu sei tudo. Estava lá, lembraste? No Tamisa, nos passeios e nos candeeiros de Londres, nas fachadas dos prédios. Estava em ti. E tu em mim, enquanto deambulava pela praia, a pensar se a minha vida está certa enquanto repetia sistematicamente que a vida não precisa de um certificado de validez.
Sente o meu bronze na tua pele e nota como o meu inglês melhorou. Deixa-me encostar a cabeça no teu ombro e rir, deixa-me dizer-te que tens razão, que vou seguir com a minha vida e ser feliz sem dizer nada a ninguém. Passa-me a mão pela cabeça, faz papel de pai. E deixa-me perguntar-te se usaste boné e atravessaste sempre na passadeira.
Amo-te. Oh, amo-te tanto! Não enquanto rapaz, isso seria restringir a importância que tens na minha vida. Amo-te enquanto pessoa, amo-te o mais que se pode amar um amigo.
Gritemos juntos, a uma só voz, baixinho. Está sol de Setembro, apesar de ainda ser Agosto, e o vento acaricia-nos.
Prometo-te: mesmo que um dia a vida te leve para longe, eu estarei sempre perto. Quanto mais não seja, nas recordações, no coração. Fazes parte das minhas estruturas, somos cada um uma parte que já não cabia no outro e que, por isso, nasceu à parte.
Fica comigo Amigo. Fica em mim e deixa-me ficar em ti.
Anda, vamos ouvir Jorge Palma e ler Mafaldinha. Anda, vamos provar que a amizade é uma coisa concreta. Anda, vamos simplesmente estar um com o outro.