Fecho os olhos e estou lá, na Ponte D.Carlos
Não é preciso mais nada, basta fechar os olhos.
A agulha com que tento inutilmente pregar o botão, traz-me de volta à realidade. A música da rádio é antiga e preenche-me o quarto. As gavetas, abertas, e vazias, fazem com que o olhar se desvie para cima da cama, onde, quietinhas e dobradas, as camisolas de gola alta convidam à divagação.
Tenho mesmo que as levar? Por mim bastava o pijama e as garrafas de vinho. E o meu candeeiro - estou com uma vontade absurda de o levar comigo! Há cor na luz, muito mais cor do que aquela que vê.
Cor, cor, cor.
Embrulho os botins e sinto o nariz frio. Sorrio. Fazer as malas é um acto de liberdade. Escrevo a última mensagem, ato o cabelo e desligo o telemóvel. Fazer as malas é mesmo um acto de liberdade.