Sunday, January 06, 2008

Querer

Anda cá. Shss, não faças barulho, não vês que estão todos a dormir? Chega aqui à minha beira, como dizia a minha avó. (De que te ris tu? Bem sabes que tenho um fascínio por este tipo de expressões, acho-lhes piada!). Vá, anda cá. Tapa-te com este cobertor, partilha-o comigo (não o puxes tanto, não vês que assim fico com os pés de fora e tenho frio?), enrola as tuas pernas nas minhas sem que ninguém veja. Deixa as pessoas à nossa volta adivinharem que se passa alguma coisa entre nós – mas não lhes confirmes nada, é uma coisa nossa, só nossa, não precisa de andar nas bocas do mundo. Evita esse gesto – detesto que me cocem o couro cabeludo. Brinca antes com o meu nariz, gosto quando fazes isso. Podes dizer-me coisas bonitas ao ouvido, não precisas, mas podes, confesso que me agradaria. Chega-te mais, fica bem perto. Quero ouvir e sentir a tua respiração, quero tocar-te, quero acordar contigo ao lado, quero-te. Pronto, já disse, quero-te. Quero-te, quero-te. Quero-te. Não que goste de ti – não confundas as coisas, chego a detestar-te, tiras-me do sério, dás comigo em doida, irritas-me. Mas, aparentemente, és maior do que as minhas forças. Estou viciada em ti. Quero que me conheças os pormenores, quero que saibas tudo sobre mim e, ainda assim, te sintas insaciado, quero pôr-te a bater com a cabeça nas paredes, quero que não consigas tirar-me da cabeça, perseguir-te, acabar com a tua paz, destruir o teu sossego. Quero viciar-te em mim.

Pode ser?
.

18 comments:

2cubos: said...

amei.amei.amei. impressionante como o que escreves se identifica mais uma vez comigo. (mas eu não fico como um tomate :)) obrigada por tudo, obrigado por me acordares, por me deixares levar pelo vento.

Anonymous said...

Maravilhoso!

Desculpa minha querida! Mas fiquei completamente sem palavras para descrever o que sinto neste momento após ter lido este texto!

Escreves cada vez melhor!

Abraço

Rosa dos Ventos said...

Claro que pode!
Tudo é possível...

Lenin aka JR said...

Claro que pode. Sempre.

Não me ocorre mais nada. Nada que possa acrescentar. Apenas... simplesmente brilhante.

Beijos.
JR

Raquel Costa said...

Identifiquei-me.

Espectacular...perfeito!
Primeiro, porque me tocou bem cá dentro esse desejo de que alguém dependa de nós sem termos de depender mutuamente e pensar que somos estritamente necessários e desejados. Depois porque a tua maneira de escrever tem um quê de especial.

Adoro-te ( estás fartinha de o saber amor)

SA. said...

Quem é que não se revê nisto?

Anonymous said...

bem.. Por mim pode ser!!! Mas com essas palavras tiras-me do sério!! Por favor podemos partilhar o cobertor mas não me digas essas palavras se não fico Doido!! ( fogo nao podemos passar uma noite ja comecas a divulgar a tudo e todos!xD)... A sério matas-me rapariga!! de momento sinceramente nao te consigo tirar da cabeça!!
Afonso Adão

Tiago Ramos said...

Gostei muito, Luísa. Nota-se a evolução, querida.

Luisa Oliveira said...

Princepeza - De nada, estou aqui para isso. Tal como tu o fazes por mim. (Eu não fico como um tomate, isso é mania tua! E tenho dito). ^^

Zé - Muito obrigada querido. Outro abraço, forte.

Rosa dos Ventos - Também gosto de acreditar que sim :)

Raquel - Sempre nos percebemos muito bem, não é amiga? Desde que subiste para aquele palco e eu me pus a acenar com a cabeça, incapaz de conter a concordância com o que tu dizias. E depois foi a minha vez, e os papéis inverteram-se.
Obrigada (e espero que também estejas fartinha de o saber).

Sarinha - Há quem não se reveja. O que não é bem o nosso caso, acho ^^

Afonso - Só tu, o que eu agora me ri! Obrigada, é bom saber que passas aqui pelo blog :)

Tiago - Vindo de ti, isso sabe ainda melhor. Quando ganhares o Nobel, vou imprimir isto e andar por aí a mostrar às pessoas :) eheh

Anonymous said...

Lembras.te do texto de que falámos na escola ? Foi deste.

Está espantoso minha linda. Simplesmente único. Gostei imenso !

( gaby )

Luisa Oliveira said...

Lembro sim (só me fazes corar!). Eu tinha percebido que era este, só podia :) Obrigada, por tudo.

Joana said...

finalmente tive tempo (ou melhor, preguiça, não me vou armar em ocupada) para me sentar à frente do computador e comentar tantos textos em falta. este é um deles (não digo que é o melhor de todos, porque depois os outros ficam tristes), mas é complicado escrever um comentário aqui, visto que li-o, reli-o à tua frente, e comentei-o e voltei a comentá-lo. não era preciso isto, não, mas só porque mereces que te digam (uma vez mais) que estás cada vez melhor.


<3

Luisa Oliveira said...

Ju - Escrevi-o, para além da necessidade, para explicar coisas a que não conseguia responder assim, a frio, em perguntas de intervalo. Obrigada por tudo.

SaLomÉ said...

Pode! Aliás, já estou, não é preciso pedires. A vontade de ser como tu, de seguir os teus passos, já entrou em mim à muito tempo...

# CariCa # said...

"Podes dizer-me coisas bonitas ao ouvido, não precisas, mas podes, confesso que me agradaria."
Escreves realmente bem!=D
Adorei=)*

Luisa Oliveira said...

Mézinha - Não precisas nada dessa vontade (livra-te dela!). És que baste, és muito mais do que alguma vez serias se fosses eu. Não te esqueças disso.

Carica - Obrigada :)

Anonymous said...

"SA. said...
Quem é que não se revê nisto?"

confirmo :)

Luisa Oliveira said...

Pedrinho - :)