Thursday, April 17, 2008

Uma missão

“- Olhe, desculpe, o senhor acredita que podemos mudar o Mundo?”
Iam de ombro em ombro, de pessoa em pessoa, sempre com a mesma pergunta nos lábios. Sorriam, mostravam-se simpáticos. Andaram de passeio em passeio, de rua em rua, de quarteirão em quarteirão. De tempos a tempos, uma resposta que balançava entre a ironia e a simpatia. De tempos a tempos, uma resposta divertida. De tempos a tempos, um desabafo. Na maioria do tempo, o desprezo, a ignorância.
A Maria e o Adulto Jovem tinham uma missão e sabiam que não voltariam a sentarem-se na sombra do prédio antes de a cumprirem. Não porque ganhassem alguma coisa com isso, não porque fosse, sequer, necessário – deviam-no a si mesmos, tinham combinado que o fariam: só por isso.
O tempo estava estranho. Havia uma chuva miudinha a irritar-lhes os cabelos e o campo de visão, fazia frio e calor ao mesmo tempo, o ar estava pesado e custava a respirar. Ainda assim, no intervalo da abordagem entre duas pessoas, eles riam-se. Sem motivo, sem nenhuma razão óbvia. Riam-se porque lhes apetecia e porque, quer eles quisessem quer não, a situação era quase surreal.
Foi o AJ que encontrou a primeira pessoa. Uma senhora pequenina, com ar de mãe atarefada, de meia-idade e meia classe – sim, uma senhora claramente de “meia”. Foi ela que lhe disse:
“- É o que estamos a fazer”.
Ele aceitou a resposta e partiu para a segunda parte:
“- E salvá-lo, podemos?”
“- Primeiro precisamos de nos salvar a nós. Quer dizer, temos que ir fazendo as duas coisas – já não há tempo para podermos ser mariquinhas.”
O AJ acenou com a cabeça, apontou em frente, chamou “-Maria!” (que se lhes juntou a correr), ofereceu o braço à Senhora-Meia e puseram-se os três a caminho do ponto de encontro.

6 comments:

Joana said...

também posso oferecer o meu braço?

Tiago Ramos said...

Ficou mesmo bonito! :)
Parabéns.

Anonymous said...

Fantástico.

Raquel Costa said...

faz-me lembrar " favores em cadeia ".
Era tão mais fácil se todos dessemos o braço - primeiro, o braço a torcer, depois o braço ao próximo.
Tudo seria melhor se o mundo fosse feito de Marias.

Adoro-te

Anonymous said...

escreve mais, escreve mais! :D

gosto da maria :)

Anonymous said...

Ana, por acaso dia 4 de junho não vais à UA com as "criativas de ourém" à festa das cidades criativas? Como já vi que elas estão inscritas e podemos levar quantos acompanhantes quisermos =)