Nota: Evitem-se comentários sobre o facto da Maria me voltar a assombrar e tirem-se as teimas: ela nunca me largou. E pronto, ou eu escrevia sobre ela ou ela não deixava sair mais nada. Sim, dobrei-me às vontades de uma personagem.
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Há um baloiço parado no meio do jardim – parado não, abandonado. De tempos a tempos, o balanço do vento faz com as ferragens velhas chiem e, o som natural da velhice, afasta os jovens pássaros que por ali poisaram, a descansar das brincadeiras aéreas. São eles a vitalidade do quadro – quando se vão, a paisagem morre, deixa de fazer sentido.
À volta do jardim, a cidade cresceu. Os carros passam, os prédios roubam-lhe o Sol, as pessoas apressadas deixam de ser pessoas para passarem a ser parte integrante de um projecto maior – a civilização. O jardim, mirrado pela força das circunstâncias, deixa-se invadir pelos não-cuidados e cede às ervas daninhas e ao (des)ordenamento casual. Ainda assim, tem o dom de não perder a essência e mantém-se um oásis de valores.
É assim que a Maria o encontra – esquecido, perdido, abandonado. Depois de se ter posto a caminho, depois de ter deambulado dias/meses/anos sem grande rumo, achou-se naquele jardim, por acaso(?). Novamente os bancos, típicos. Novamente um cenário insólito e estranho, desconfortável. Novamente a sensação de derrota. Novamente a assombração do medo.
Descortinou, entre as ramagens crescidas e densas das árvores e arbustos, o baloiço. Lembrou-se dele, perdido entre as banalidades que a memória tem tendência a guardar. Lembrou-se, mas não em pleno: apenas uma imagem, quase fotográfica, longínqua. Não sem esforço, chegou até ele, afastou três ou quatro folhitas secas e sentou-se. Encostou a cabeça à corrente esquerda de suspensão e deixou-se ficar.
Ter a infância como casa – oh, ter a infância como casa.
À volta do jardim, a cidade cresceu. Os carros passam, os prédios roubam-lhe o Sol, as pessoas apressadas deixam de ser pessoas para passarem a ser parte integrante de um projecto maior – a civilização. O jardim, mirrado pela força das circunstâncias, deixa-se invadir pelos não-cuidados e cede às ervas daninhas e ao (des)ordenamento casual. Ainda assim, tem o dom de não perder a essência e mantém-se um oásis de valores.
É assim que a Maria o encontra – esquecido, perdido, abandonado. Depois de se ter posto a caminho, depois de ter deambulado dias/meses/anos sem grande rumo, achou-se naquele jardim, por acaso(?). Novamente os bancos, típicos. Novamente um cenário insólito e estranho, desconfortável. Novamente a sensação de derrota. Novamente a assombração do medo.
Descortinou, entre as ramagens crescidas e densas das árvores e arbustos, o baloiço. Lembrou-se dele, perdido entre as banalidades que a memória tem tendência a guardar. Lembrou-se, mas não em pleno: apenas uma imagem, quase fotográfica, longínqua. Não sem esforço, chegou até ele, afastou três ou quatro folhitas secas e sentou-se. Encostou a cabeça à corrente esquerda de suspensão e deixou-se ficar.
Ter a infância como casa – oh, ter a infância como casa.
4 comments:
Ai, as personagens que lutam na nossa cabeça. Tão típico de um escritor... como tu. Parabéns, bonito texto.
"Encostou a cabeça à corrente esquerda de suspensão e deixou-se ficar."
Às vezes é tudo o que me apetece fazer. Apenas isso. Deixar-me ficar.
Gostei muito do regresso da Maria. E do teu regresso também... ;)
Beijinhos.
João
"Ter a infância como casa – oh, ter a infância como casa."
Está fantástico, Luísa! (: *
Tiago - Esta sacana não me larga, não dá espaço a mais histórias. Mas gosto dela, ainda assim. Obrigada.
João - Sim, e porque não? Se te dá vontade, deixa-te mesmo ficar. Mas só por um bocadinho... (Tanto ela como eu nunca nos fomos embora: estavamos só a fazer aquilo que tens vontade, a deixar-nos estar por momentos).
Maria - Obrigada, obrigada, obrigada.
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