Wednesday, January 16, 2008

Não acreditamos no mesmo deus, não adoramos a mesma essência. Só isso. Eu acredito nas pessoas anónimas que passam por mim na rua. Acredito no meu vizinho, no padeiro, na mulher do carro do lixo, no costureiro. Acredito na estrela não conhecida de rock alternativo, no actor frustrado, no político calado. Acredito em todas as pessoas que não acreditam em si próprias e naquelas que, acreditando em si, não deixam de acreditar nos outros. Eu acredito na enfermeira, no homem da limpeza, no cozinheiro e na argumentista. Em suma ponto, acredito no Homem, em geral – ou, melhor dito, acredito na criança, em todas as crianças do Mundo – aquelas que, amanhã, serão professores, artistas, pedreiros, arquitectos, atletas, historiadores, senhoras e senhores de palavra e decisão.

Sim, a minha crença já sofreu muitos abalos, já me deu desilusões sérias (todos os dias, dia após dia). Mas e a tua? Não sofres quando vês alguém doente, quando vês o poder da violência de pequenos actos, quando pensas nos milhares de pessoas a morrer à fome? Não questionas o teu deus sempre que vês um cego a pedir uma moeda ou um garoto roto e descalço nas ruas da calçada? Não gritas com ele, não te revoltas, não lhe exiges que seja justo?
(Se não, devias).
.
É tudo uma questão de fé, pois então. E eu tenho-a: é simplesmente uma fé agnóstica.

15 comments:

SA. said...

Curiosamente nada disto me choca ou fere.
Há muito tempo que deixei de escrever "deus" com letra maiúscula.


(e reparei que tu também não o fizeste^^)

Raquel Costa said...

fé agnóstica. Já somos duas !

deus não existe, deus é...
não tem nascimento nem morte, apenas se revela naquilo que nos rodeia.

Tiago Ramos said...

Recebi de uma forma aberta a tua (des)crença e a tua opinião e arrisco-me a dizer que foi o teu melhor texto de sempre.

Parabéns, Luísa.

Luisa Oliveira said...

Sarinha - Também deixei de o fazer há muito. Não temos que o fazer se, para nós, isso não faz sentido algum ^^

Raquel - Não sei se deus existe ou não. Eu não acredito nele. Mas acredito em ti, e muito, por exemplo.

Tiago - Obrigada, mesmo. É disso que precisamos, não é? Estarmos abertos a opiniões :)

Anonymous said...

É a tua opinião, eu aceito-a e acho que deves sempre lutar por essa fé e por tudo mais em que acreditas!Nunca desistas de lutar pelo que acreditas.

Cada vez consegues pôr mais de ti própria nos textos que escreves, ao ler os teus textos sinto como se a tua voz os estivesse a declamar ao mesmo tempo que os leio.

Rosa dos Ventos said...

Este teu post dá pano para mangas e até para mangas de fatos de anjo! ;-))

Anonymous said...

Apesar de não partilhar e tua opinião sobre Deus! Apoio o teu sentimento pois esse sentimento é o que me passa muitas vezes na minha cabeça! Mas penso que a actividade feita na Terra nao depende Dele! Penso que depende de nós! A fome? como perguntas-te.. não significa o capitalismo de uns? A violência? Nao depende de cada um? o cego a pedir esmola? mais uma vez nao depende da riqueza de uns, pobreza de outros? Será que em vez de questionares "deus" nao deverias questionar as pessoas que pesam a balança entre a riqueza e pobreza/fome? quanto a doença? nao sei o que te dizer.. Mas posso dizer que penso o seguinte: Que isto tudo é um teste e que quando chegarmos ao porto que nos irá dar dois caminhos! Penso que iras constatar que talvez tudo na vida teve um propósito (muitas das vezes dificil de não contestar) e será na morte que o irás encontrar!(talvez, mais uma vez quetão de fé!!!)
Afonso Adão

Luisa Oliveira said...

Zé - Obrigada. E é bom estar aí, ao teu lado, nem que seja apenas "uma questão de voz".

Rosinha - Um dia destes falamos sobre isto, espero.

Afonso - Eu não falo com ele, não o questiono, não lhe ralho: como posso, se é algo em que não acredito? No entanto, acho que quem acredita, o deve fazer. Afinal, que tipo de deus é o que se mantém passivo a tudo isso que enunciámos? Certo, o livre-arbítrio é uma das defesas dos crentes quanto a este argumento. Mas, ainda assim, como é que ele aguenta ver tanta discriminação, tanta miséria, tanta tristeza, sem fazer nada?
Não só por isto, mas também, eu acredito em nós. Acredito porque há pessoas que conseguem, de facto, mudar vidas. E, portanto, acredito nas qualidades do ser humano - que têm que ser desenvolvidas, claro, e que não se manifestam tantas vezes quantas as necessárias (bem menos, aliás, bem menos). Ainda assim, manisfestam-se: coisa que eu não vejo o tal deus fazer.
O meu propósito é agora, é já! E é semelhante ao teu, bem o sei, não importando para o efeito esta diferença de "fés".

Lenin aka JR said...

A fé é o que é.
Há quem morra e há quem viva por ela e para ela. Depende daquilo em que acreditamos, daquilo que nos foi passado pela tradição e pela religião. Depende daquilo que vivemos.

No fundo não passa de uma forma de acreditar em algo. Só temos que definir depois aquilo em que queremos acreditar.

Não existe só um deus ou só uma força suprema que comanda a vontade. Eles são muitos e variados. Criados pelos homens
sempre que precisam de algo a que se agarrar.

Se me perguntarem se acredito em deus... acho que vou ter dificuldade em responder a essa questão. Primeiro vou ter que perguntar: qual deles?

Penso apenas que todas as causas e
consequências podem e devem ser imputadas a uma entidade única: o homem. E depois vem a Natureza, com a sua capacidade de balancear as situações e o seu instinto de auto-preservação para tentar corrigir todas as asneiras que o homem fez... e continua a fazer.

Todas as coisas que enumeraste foram criadas pelo próprio homem, até as doenças, na sua sede de poder e riqueza. Foi esse homem que desenvolveu virús, que "inventou" a
poluição, que definiu arbitrariamente as disparidades que hoje existem. Foi esse homem que por ganância continua a sustentar essa situação.

Então porquê imputar as culpas a um "deus"?

A única coisa que posso dizer é que cada um deve ter algo em que acreditar, seja um deus ou qualquer outra coisa. Porque no momento em que deixamos de acreditar...

Gostei muito do teu post .
E afinal sempre consegui comentar antes do fim-de-semana... ;)

Beijinhos
João

Anonymous said...

também em acredito mais no mundo do que em que, supostamente, o criou. aquele que apenas escrevi com letra maiúscula nos primeiros anos de catequese, quando tudo era culpa dele e se acontecia algo de bom, era ele o responsável.

e também acredito em ti. :)

Anonymous said...

Sim... mais uma vez indico o teu ponto de vista contudo penso, (e digo mais uma vaz) que apesar de Deus se mostrar indeferente (ao aparente demonstrar indeferente) as nossas actividades ou aos males do mundo! Penso que Ele têm a consciencia tranquiila na medida em que sabe a compensação(ou o contrário) na morte!
Contudo eu só empirista! Por isso algumas vezes custa-me refutar algo em favor Dele... Mas há sempre algo que me puxa para isso! Baijos
Afonso Adão

Anonymous said...

E q me interessa a simplicidadecomplexa? isto é para comentar o trabalho da luisa não para divulgares o teu trabalho!!! Sinceramente!
o texto está espectacular continua!!

Luisa Oliveira said...

João - A minha principal questão é a pacifidade de um deus tão pouco "humano" que consiga desprender-se de nós. E, para mim, isso não é ser perfeito - longe disso - é mesmo um grande defeito.

Afonso - Lá está, é uma questão de fé. Tu sente-la, eu não (ou, pelo menos, não dessa maneira). Não tem que ser explicado até à exaustão: é o que é e ponto final.

Tiago - Certamente não deixarei de comentar. Depois ainda te "cravo" para me explicares as vantagens desse sistema com calma :)

Anónimo - O pessoal que aqui vem tem sempre direito a divulgar o seu trabalho. Isto funciona como uma rede - há blogs fixos que comentamos e pelos quais nos interessamos. O Tiago escreve maravilhosamente e eu admiro-o muito. É, desde logo, um orgulho que ele aqui venha e tenha vontade de me manter a par sobre o seu trabalho. Claro que eu gosto que digam bem do meu mas isso não tem que ser sempre - os elogios são caprixosos - tenho que trabalhar para os merecer e é um trabalho contínuo. De qualquer maneira, obrigada pelo teu.

Anonymous said...

venho ca todos os dias!!!
Não está na altura de escrever algo novo?? lol...
estou a brincar!!
Mais vale coisas de x em x tempo e boas!(como têm acontecido no teu blog até agora!!!) do que á pressa! Beijos!
Afonso Adão

Luisa Oliveira said...

Afonso - Já está :) É só pedir por boca!
Agora a sério, eu escrevo todos os dias só que, infelizmente, é preciso muito papel para aparecer alguma coisa que possa ser publicada. E depois também há alturas - ora escrevo 4 ou 5 textos que considero razoáveis, ora passo semanas sem conseguir uma frasezinha com significado. O de hoje (que publiquei agora), não é de hoje..