Saturday, March 22, 2008

Ao som de um Baloiço

Nota: Evitem-se comentários sobre o facto da Maria me voltar a assombrar e tirem-se as teimas: ela nunca me largou. E pronto, ou eu escrevia sobre ela ou ela não deixava sair mais nada. Sim, dobrei-me às vontades de uma personagem.
.
Há um baloiço parado no meio do jardim – parado não, abandonado. De tempos a tempos, o balanço do vento faz com as ferragens velhas chiem e, o som natural da velhice, afasta os jovens pássaros que por ali poisaram, a descansar das brincadeiras aéreas. São eles a vitalidade do quadro – quando se vão, a paisagem morre, deixa de fazer sentido.
À volta do jardim, a cidade cresceu. Os carros passam, os prédios roubam-lhe o Sol, as pessoas apressadas deixam de ser pessoas para passarem a ser parte integrante de um projecto maior – a civilização. O jardim, mirrado pela força das circunstâncias, deixa-se invadir pelos não-cuidados e cede às ervas daninhas e ao (des)ordenamento casual. Ainda assim, tem o dom de não perder a essência e mantém-se um oásis de valores.

É assim que a Maria o encontra – esquecido, perdido, abandonado. Depois de se ter posto a caminho, depois de ter deambulado dias/meses/anos sem grande rumo, achou-se naquele jardim, por acaso(?). Novamente os bancos, típicos. Novamente um cenário insólito e estranho, desconfortável. Novamente a sensação de derrota. Novamente a assombração do medo.

Descortinou, entre as ramagens crescidas e densas das árvores e arbustos, o baloiço. Lembrou-se dele, perdido entre as banalidades que a memória tem tendência a guardar. Lembrou-se, mas não em pleno: apenas uma imagem, quase fotográfica, longínqua. Não sem esforço, chegou até ele, afastou três ou quatro folhitas secas e sentou-se. Encostou a cabeça à corrente esquerda de suspensão e deixou-se ficar.

Ter a infância como casa – oh, ter a infância como casa.

Wednesday, March 12, 2008

PJ 2008

É tão bom ter entusiasmo nas pontas dos dedos e andar por aí a tocar nas pessoas, a vê-lo passar de nós para quem nos rodeia. É tão bom, é mesmo bom! – saber que não acaba aqui, que (finalmente) vamos conhecer a parte que faltava e preencher o último separador do dossier. E, mais importante do que tudo, saber que o “isto não fica por aqui” não significa apenas a Assembleia da República: significa que o Projecto, pelo menos a curto/médio prazo não morre. Conseguimos, e esta é a grande vitória, construir um grupo de trabalho coeso, criar laços, deixar por cá a vontade de continuar.

Encho os pulmões até doerem e, depois, deixo sair o ar, devagarinho. Experimento um sentimento (que se traduz mesmo em sensações específicas) que não cabe em mim, que se manifesta da cabeça aos pés e sai cá para fora. É orgulho, felicidade e bem-estar conjugados numa simbiose perfeita, atada com uma coisa chamada “querer muito” (sonhos?). Há fases em que a vida é especialmente generosa connosco – nem que, para isso, tenhamos que esperar e bater muito com cabeça.

O meu Secundário não podia estar a terminar de melhor forma. E sim, começa a denotar-se uma ponta de melancolia…
.
Obrigada.

Tuesday, March 04, 2008

O meu avô.

Cabelo branco (mesmo branco, fininho), rugas e traços marcados – poucos são os anos (sim, poucos!) mas, enfim, bem vividos e com personalidade de artista: daí a pintura que lhe fizeram no rosto. O meu avô é um senhor. Ri com gosto, come com prazer, dorme honestamente e de boca aberta no sofá. O meu avô é um Homem, um verdadeiro Homem – tem bom coração, altos nas mãos, gosta de nós como se fossemos o Mundo (seremos?), não diz nada mas comove-se muito por dentro, sozinho, em silêncio.
Gosto muito dele. Mesmo muito. Gosto quando põe o braço por cima dos ombros da minha avó e voltam os dois a ser de tenra idade, gosto quando recordam histórias, nomes, lugares. Gosto quando ele ouve mal e eu tenho de repetir mais alto, Gosto quando brinca comigo. Gosto que ele seja assim, o meu avô, o meu querido avô. Gosto quando os olhos dele brilham.

Hoje, ao almoço, queixou-se de que as ideias o não deixam dormir, que pensa demais e dorme de menos: “- Ideias de velho, aqui às voltas, sem me deixarem fechar os olhos”. Devia ter-lhe dito (mas sou pateta e fiquei calada) que as ideias de velho são isso mesmo – ideias de velho – o que, por si só, não faz delas ideias velhas.
.

Saturday, March 01, 2008

desabafo

Tremo de febre, de sono e de ansiedade. Tremo do esforço de dar supremacia à racionalidade, tremo, tremo, tremo. De cansaço, da cafeína acumulada, dos nós dos músculos.
Deliro enquanto escrevo. Que vai ser de mim? E daquilo que sonhei ser?

Não sei como dar continuidade a este blog – pronto, está dito. Tentei mudar de caneta, de bloco, de posição, de disposição. Não sai nada, tenho tudo o que já li e escrevi a encravar-me as entranhas. Sequei.

Digam-me que isto é uma crise cíclica. Digam-me. Por favor.