Imagine, caro leitor, que ia descontraidamente pela rua, a pé, a caminho do emprego. Saiu de casa um pouco antes da hora, pelo que escusa de ter pressa. Cruza-se, naturalmente, com várias outras pessoas na mesma situação. Mal olha para elas: é a rotina, é o seu caminho diário, percorrido num passo marcado, olhando para o relógio de 5 em 5 minutos (gesto quase automático na nossa sociedade, mesmo aquando do uso da palavra “descontraidamente”), ou falando ao telemóvel com a mulher/marido com quem esteve nem há 10 minutos (que é, aliás, a média do tempo que passam juntos durante o dia), combinando quem é que vais buscar os filhos à escola.
Imagine, que fazia metade do caminho atrás de duas jovens de 16 anos, ambas aparentemente normais. Estranhava? Claro que não, provavelmente nem interiorizava o facto. Podia até tentar uma ultrapassagem ou acusar alguma expressão verbal desta juventude que todos dizem perdida. Mas não se perguntaria sobre a vida delas, se gostam ou não de estudar, se são felizes, se têm namorado e por aí adiante. A verdade é que nem ponderaria acerca da vida que aquelas duas jovens, para quem mal olhou, têm por detrás daquelas risadas que dão no meio da rua, daquela roupa com cores exuberantes que se usa agora, daquelas unhas pintadas de prateado, daquela mochila que se adivinha carregada de cadernos e livros da escola.
Imagine agora que ao seu lado caminhava alguém conhecido que comentava alguma coisa acerca das raparigas. “São filhas de fulano tal, diz-se que fazem tal tipo de coisas...” Bastaria isto para a sua mente formar uma opinião. Já não são duas simples raparigas que vão à sua frente no passeio. Afinal, “são filhas de fulano tal e diz-se que fazem tal tipo de coisas”.
Imagine, caro leitor, que em vez disto, tinha visto estas mesmas raparigas, por acaso, a brincar com bolhinhas de sabão no meio do jardim. Uma fazia-as, com um aqueles tubinhos que têm uma argolinha de plástico para onde se sopra e a outra corria atrás delas, rebentando-as com visível prazer. Uma situação de simples prolongamento da infância. Das duas uma: ou o leitor é uma pessoa agradável e de espírito aberto (e neste caso pensaria apenas “que bom que é ver pessoas felizes”) ou então, e peço desde já desculpas, é um retrógrado que acha que só as crianças pequenas é que têm direito a brincar (“Não terão nada para estudar? Esta juventude está cada vez mais atrasada… Cambada de gente maluca!”).
Imagine, desta vez, que as via a pedir um horário, claramente de um rapaz, a uma funcionária da escola.
“ _ Senhora Funcionária, tem que nos fazer um imenso favor… Acha que podíamos ver o horário da turma X?”
Ou então, em cima de uns baloiços, com uns binóculos, a observar esse ou outro rapaz. Ou a discutir qual seria a melhor forma de o abordar (“_ Deixo cair os livros ao pé dele? Pergunto-lhe as horas? Peço-lhe dinheiro?”). Ou a subir as escadas do pavilhão da escola, numa correria digna de medalha olímpica, para não o perder de vista.
O que pensaria nestas situações? Provavelmente qualquer coisa dentro do género “no meu tempo não era nada disto”, num tom que pode ir da melancolia à censura.
Imagine, só para acabar, que as via a discutir uma proposta de lei, a apresentar no Parlamento dos Jovens (Jogo da Cidadania). Meninas interessadas por política. A falar com um certo brio, convicção, entusiasmo. E agora? Ia gostar, não? Ainda há alguns jovens que se safam, que percebem alguma coisa do mundo que os envolve.
Imagine que eu chegava aqui e dizia simplesmente: “Há duas jovens de 16 anos que têm apenas um tema de conversa (tirando os outros todos), caem a andar de baloiço e são um bocadinho estranhas demais para o conceito de normal. Mas são felizes, no geral, passam uns bons bocados juntas e riem que se fartam”.
Imagine, que fazia metade do caminho atrás de duas jovens de 16 anos, ambas aparentemente normais. Estranhava? Claro que não, provavelmente nem interiorizava o facto. Podia até tentar uma ultrapassagem ou acusar alguma expressão verbal desta juventude que todos dizem perdida. Mas não se perguntaria sobre a vida delas, se gostam ou não de estudar, se são felizes, se têm namorado e por aí adiante. A verdade é que nem ponderaria acerca da vida que aquelas duas jovens, para quem mal olhou, têm por detrás daquelas risadas que dão no meio da rua, daquela roupa com cores exuberantes que se usa agora, daquelas unhas pintadas de prateado, daquela mochila que se adivinha carregada de cadernos e livros da escola.
Imagine agora que ao seu lado caminhava alguém conhecido que comentava alguma coisa acerca das raparigas. “São filhas de fulano tal, diz-se que fazem tal tipo de coisas...” Bastaria isto para a sua mente formar uma opinião. Já não são duas simples raparigas que vão à sua frente no passeio. Afinal, “são filhas de fulano tal e diz-se que fazem tal tipo de coisas”.
Imagine, caro leitor, que em vez disto, tinha visto estas mesmas raparigas, por acaso, a brincar com bolhinhas de sabão no meio do jardim. Uma fazia-as, com um aqueles tubinhos que têm uma argolinha de plástico para onde se sopra e a outra corria atrás delas, rebentando-as com visível prazer. Uma situação de simples prolongamento da infância. Das duas uma: ou o leitor é uma pessoa agradável e de espírito aberto (e neste caso pensaria apenas “que bom que é ver pessoas felizes”) ou então, e peço desde já desculpas, é um retrógrado que acha que só as crianças pequenas é que têm direito a brincar (“Não terão nada para estudar? Esta juventude está cada vez mais atrasada… Cambada de gente maluca!”).
Imagine, desta vez, que as via a pedir um horário, claramente de um rapaz, a uma funcionária da escola.
“ _ Senhora Funcionária, tem que nos fazer um imenso favor… Acha que podíamos ver o horário da turma X?”
Ou então, em cima de uns baloiços, com uns binóculos, a observar esse ou outro rapaz. Ou a discutir qual seria a melhor forma de o abordar (“_ Deixo cair os livros ao pé dele? Pergunto-lhe as horas? Peço-lhe dinheiro?”). Ou a subir as escadas do pavilhão da escola, numa correria digna de medalha olímpica, para não o perder de vista.
O que pensaria nestas situações? Provavelmente qualquer coisa dentro do género “no meu tempo não era nada disto”, num tom que pode ir da melancolia à censura.
Imagine, só para acabar, que as via a discutir uma proposta de lei, a apresentar no Parlamento dos Jovens (Jogo da Cidadania). Meninas interessadas por política. A falar com um certo brio, convicção, entusiasmo. E agora? Ia gostar, não? Ainda há alguns jovens que se safam, que percebem alguma coisa do mundo que os envolve.
Imagine que eu chegava aqui e dizia simplesmente: “Há duas jovens de 16 anos que têm apenas um tema de conversa (tirando os outros todos), caem a andar de baloiço e são um bocadinho estranhas demais para o conceito de normal. Mas são felizes, no geral, passam uns bons bocados juntas e riem que se fartam”.
E agora, diga-me você, caro leitor, que ideia tem destas jovens?