Tuesday, October 30, 2007

CAMINHOS

Lá dentro, porém, não havia placa nenhuma. Quando a Maria deu por isso estava no palco, de novo (alguma vez teria saído de lá?), sem vestígios de porta atrás de si. Desta feita, era ele quem jazia morto.

A sala estava vazia, com a excepção de um espectador que ocupava uma das cadeiras da última fila. A Maria focou o olhar e percebeu, incrédula, tratar-se da sombra do Medo. Esse, encontrava-se cá bem à frente, a rir, estridentemente, a bater palmas, a pedir mais. Ela encostou os olhos e esperou que os ouvidos se fechassem àquele barulho perturbante. As lágrimas corriam incessantemente, sem que ela as conseguisse fazer parar. Não estava triste: na verdade, não sentia nada. Por isso mesmo as lágrimas não vinham de dentro e não eram salgadas. Eram só... lágrimas. Mesmo assim, molhavam. Encharcavam-lhe os cabelos e o rosto, marcavam-lhe a pele a vermelho, inchavam-lhe os olhos.


Sentiu uma leva brisa: estava de volta ao banco de jardim, com a sensatez ao lado. Talvez a placa fosse um mito. Talvez não. Na dúvida, valia a pena procurá-la, correr atrás do que realmente importava e deixar-se de elementos acessórios ao caminho.
Olhou para o relógio: havia ainda tempo para um croissant de chocolate, como lhe aconselhara uma fada. Levantou-se e sentiu-se de novo ela.

(Acaba aqui).

6 comments:

SA. said...

Não gosto de finais felizes, nunca gostei. Não gosto porque depois é preciso viver o "felizes para sempre" e isso dá muito trabalho.
Não gosto.

(Mas também não gostei muito deste, desculpa-me a sinceridade- pensei que fosses fazer isto melhor =S [desculpa-me])

Anonymous said...

"Na dúvida, valia a pena procurá-la, correr atrás do que realmente importava e deixar-se de elementos acessórios ao caminho." -» Como eu compreendo tão bem esta frase. Para mim, tem um significado especial, mas nunca percebi o porquê. Que estranho!

Joana said...

concordo com a sara. apesar de teres escrito maravilhosamente bem, como sempre me habituaste, acho que conseguias fazer melhor. (eu cá gostava de um final feliz - afinal, não era só a maria que precisava de um..).
de qualquer maneira, adorei a última parte. bolas, adorei mesmo!=p és um amor, minha pequena*


(mas uma coisa tenho a certeza: ninguém lhe tirará o prazer do croissant com chocolate. seja qual for o seu sabor.)

Luisa Oliveira said...

Sarinha - Desculpar porquê? Ora essa, gosto dessa sinceridade. Só assim é que posso dar valor aos elogios, quando eles aparecem. Não achas? ^^
(Eu adoro finais felizes, devoro-os. Essa parte então do "felizes para sempre" é a minha favorita) :)

Zé - Também tem para mim ;)

Ju - Porque será sempre chocolate. (Estás autorizada a mudar o final, quando escreveres a parte dele. Combinado assim?) ^^

Patricia said...

Eu gostei. A vida nem sempre tem finais felizes, muito pelo contrário. Na sua maioria, são infelizes. Portanto, porque não realizar os nossos sonhos nas história que criamos? Para triste já basta a vida :)

Adorei Luisa... Escreves com alma!
Beijinho grande.

Luisa Oliveira said...

Patrícia - Ora aí está! Vivam os finais felizes :)
Obrigado querida, mesmo * beijinho