A Maria riu, estridentemente, na cara dele.
“Ora toma!”
É mesmo bem feito, pensou a assistência. Um riso que corta, que goza, que lhe rasga o peito. Um riso que o humilha mais do que tudo, que o despedaça. O público gosta, pede mais. E ela volta a rir, mais alto, cada vez mais alto. Pára, subitamente. Roda em pontas e cai-lhe nos braços. Perplexo, ele procura no subconsciente uma maneira de lidar com aquilo, de lidar com ela. Cada movimento da Maria é pensado, premeditado. Têm muitas noites de reflexão, os gestos dela. São compostos de muitas insónias, que os tornam perigosos e independentes. E dão cabo dele, sempre e cada vez mais.
“Ai sim? Tomaras tu!”
Espertinha, hem? A usar as frases dele. As fraquezas dele. A usá-lo a ele mesmo, como se de uma marioneta de corda se tratasse. Pinta a cara de branco e assombra-o, desenha-lhe rugas na face e aponta-lhe para o “pneu” de gordura que subitamente lhe surgiu na barriga.
“És um velho. Ninguém te quer”.
Suores frios, muit
os suores frios. Ela agarra num copo de cerveja, enche-o com fragmentos da vida de boémia dele e dá-lho a beber. Rejeita, num gesto nada firme. Bebe ela, de um trago. E cai morta no chão, de olhos abertos. Ele percebe muita coisa, neste momento. Percebe quase tudo. A Maria é parte de si: é a representação do seu próprio fim, fim esse que ele aprendeu a amar, pela convivência diária. Mas, ao tocar no corpo dela, sem vida, odeia-se mais do que tudo: odeia o desfecho eminente, construído com todo o seu empenho.
O pano cai. A assistência está apática. Ao fundo, lentamente, cresce a sombra do Medo.
“Ora toma!”
É mesmo bem feito, pensou a assistência. Um riso que corta, que goza, que lhe rasga o peito. Um riso que o humilha mais do que tudo, que o despedaça. O público gosta, pede mais. E ela volta a rir, mais alto, cada vez mais alto. Pára, subitamente. Roda em pontas e cai-lhe nos braços. Perplexo, ele procura no subconsciente uma maneira de lidar com aquilo, de lidar com ela. Cada movimento da Maria é pensado, premeditado. Têm muitas noites de reflexão, os gestos dela. São compostos de muitas insónias, que os tornam perigosos e independentes. E dão cabo dele, sempre e cada vez mais.
“Ai sim? Tomaras tu!”
Espertinha, hem? A usar as frases dele. As fraquezas dele. A usá-lo a ele mesmo, como se de uma marioneta de corda se tratasse. Pinta a cara de branco e assombra-o, desenha-lhe rugas na face e aponta-lhe para o “pneu” de gordura que subitamente lhe surgiu na barriga.
“És um velho. Ninguém te quer”.
Suores frios, muit

O pano cai. A assistência está apática. Ao fundo, lentamente, cresce a sombra do Medo.
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Fotografia: http://olhares.aeiou.pt/touch/foto1478498.html
7 comments:
Se te disser provavelmente nem irás perceber porquê. Mas olha querida, revi-me e imaginei-me em linhas desse texto.
o pneu na barriga. ahah és tão tonta, miúda. já sabes que gostei, para não variar.. pff, os meus comentários são mesmo monótonos.
adoro-te, posso?
Rita - É bom saber que escrevi qualquer coisa que alguém percebe. Mas não é propriamente bom sentires que encaixa em ti, desejo-te muito melhor ^^
Ju - Podes pois. Não vou perguntar, seja qual for a resposta, adoro-te (quero lá saber da autorização!) :)
É o chamado tiro no pé.
Daqui dá para ver um buraco enorme^^
Sarinha - É isso mesmo ;)
Essa última frase diz tanto. Tanto. Adorei!
: ) *
Obrigado querida Maria :)
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