Thursday, October 25, 2007

A caminho da cabana

Quando recuperaram a consciência estavam noutro lugar, desconhecido. Parecia que tinham sido ambos transportados para um mundo paralelo, sem conhecimento ou consentimento. Nenhum sabia que tinha acontecido o mesmo ao outro, uma vez que estavam separados por um lago enorme. Era um sítio estranho, muito estranho. Havia ainda uma cabana (daquelas dos desenhos infantis), de madeira, que se encontrava precisamente no meio do lago. Era ela que cortava o contacto visual que existiria entre eles, não fosse a sua existência.
Na margem da Maria estava estacionado um pequeno barco a remos, pintado de verde, preso com uma corda a um pau debilmente enterrado na terra. De qualquer maneira, no lago não havia ondulação e o tempo era sereno, pelo que não havia perigo. Depois de uma eternidade a olhar em volta e a pensar em coisas banais, a Maria decidiu-se finalmente a saltar para dentro do barquinho e a remar em direcção à cabana.

Do outro lado, porém, não havia nenhum barco verde. Nem vermelho, ou amarelo. Ele levou as mãos à boca, em concha, e gritou: Ai sim? Tomaras tu!”. Só depois do grito já ter fugido é que se apercebeu da estupidez que dissera! Ainda assim, deixou-se ficar. O importante era ter gritado, ter avisado quem quer que fosse que estava ali. O resto, pouco importava, ele nem sabia se naquela terra estranha se percebia o português. Além do mais, doía-lhe o corpo da queda, não lhe apetecia voltar a gritar.

A Maria já ia a meio do caminho quando ouviu um estranho grito. “Estarei maluca?”. Esperou um pouco, atenta, em compasso de espera. Aquele lugar parecia estar a gozar com ela, envolvendo-a numa quietude extrema. Atribuiu o grito à fraqueza e continuou.

Ele, farto de esperar, tirou os sapatos, as calças e a camisa e entrou no lago. Assim que a água lhe deu pela cintura, lançou-se para a frente e começou a nadar.

8 comments:

SA. said...

O menino não tem nome?
Porquê?

Luisa Oliveira said...

Não merece ^^

Tiago Ramos said...

Ah, então isto é uma história... Está a tornar-se interessante e muito emocional, nota-se. Continua. Muito bem.

Luisa Oliveira said...

Não era para ser mas tornou-se sem que eu pudesse fazer alguma coisa para impedir ^^

Obrigado Tiago :)

Luisa Oliveira said...

Ah, se começares a ler desde aquele da "Construção do Fim", tudo isto se torna mais claro. Beijinho *

Anonymous said...

Cada vez gosto mais dos teus textos Luisa. Este enredo está a tornar-se magnífico.

=)

SA. said...

Eu acho que ele devia ter nome, mesmo que não mereça.
Mesmo que fosse um nome sem coisas dentro.

Digo eu. ^^

Luisa Oliveira said...

Zé - Obrigado :) (as próximas partes já estão quentinhas e prontas a servir :)

Sara - Não consigo. Porque a Maria eu conheço, minimamente, fui eu que a criei. E tem significado, o nome dela, emboa não aparente. Ele é só ele, nunca o vi, nunca falei com ele. Só sei que existe.