Lá dentro, porém, não havia placa nenhuma. Quando a Maria deu por isso estava no palco, de novo (alguma vez teria saído de lá?), sem vestígios de porta atrás de si. Desta feita, era ele quem jazia morto.A sala estava vazia, com a excepção de um espectador que ocupava uma das cadeiras da última fila. A Maria focou o olhar e percebeu, incrédula, tratar-se da sombra do Medo. Esse, encontrava-se cá bem à frente, a rir, estridentemente, a bater palmas, a pedir mais. Ela encostou os olhos e esperou que os ouvidos se fechassem àquele barulho perturbante. As lágrimas corriam incessantemente, sem que ela as conseguisse fazer parar. Não estava triste: na verdade, não sentia nada. Por isso mesmo as lágrimas não vinham de dentro e não eram salgadas. Eram só... lágrimas. Mesmo assim, molhavam. Encharcavam-lhe os cabelos e o rosto, marcavam-lhe a pele a vermelho, inchavam-lhe os olhos.
Sentiu uma leva brisa: estava de volta ao banco de jardim, com a sensatez ao lado. Talvez a placa fosse um mito. Talvez não. Na dúvida, valia a pena procurá-la, correr atrás do que realmente importava e deixar-se de elementos acessórios ao caminho.
Olhou para o relógio: havia ainda tempo para um croissant de chocolate, como lhe aconselhara uma fada. Levantou-se e sentiu-se de novo ela.
(Acaba aqui).
Fotografia: http://olhares.aeiou.pt/msa/foto1539509.html




