Tuesday, September 25, 2007

Sequência de Natureza

As escadinhas vão dar à praia. São de pedra, irregulares, esculpidas pela Mãe Natureza. Há pouca areia: o mar passa o tempo a levá-la e dá-nos apenas breves segundos para a pisarmos e fugirmos a correr da ondulação ligeira e fria. Não sou fanática disto: não passo horas a fitar o horizonte, não adoro o ar salgado que me empesta a pele. Mas confesso que aqui se respira paz. Organizo as ideias por ordem alfabética. Reparei hoje, nos olhos de uma pessoa amiga, quão fácil é fazer os outros sentirem-se bem, ficarem bem. É só querer: e, nesse querer, ficamos bem, também. Numa sequência de vontades, esculpimos degraus em nós, como os da praia. Porque num acto de afecto está muita força natural: está o máximo de natureza que se pode concentrar num só momento. Criamos projectos, muitos projectos. E conhecemos mais pessoas por quem passamos a nutrir carinho, vamos acumulando mais natureza e tornamo-nos seres verdadeiramente emocionais (sim, para além de racionais, somos emotivos, uma qualidade demasiado boa para ser tantas vezes esquecida). Amamos. Vivemos. Sonhamos. Queremos bem.

Pelos outros? Sim. E por nós. Somos egoístas, ecologicamente egoístas (como eu disse um dia, num outro contexto).
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4 comments:

Anonymous said...

"Porque num acto de afecto está muita força natural: está o máximo de natureza que se pode concentrar num só momento." Como eu tão bem compreendo esta tua afirmação. Faz-me recordar aquele abraço de despedida que foi simultaneamente tão doce e tão doloroso.

"E conhecemos mais pessoas por quem passamos a nutrir carinho" Sabes que em apenas uma semana criei laços muito fortes contigo e que nunca mais me vou esquecer de todos os momentos que lá passamos.

"Pelos outros? Sim. E por nós. Somos egoístas, ecologicamente egoístas (como eu disse um dia, num outro contexto)." O dia em que ganhei uma admiração fantástica por ti: tanta harmonia, tanta beleza, tanta maturidade numas simples palavras. Adorei o teu discurso.

Beijinho Ana*

Luisa Oliveira said...

Querido Zé, aquele abraço de despedida que curou e fez doer ao mesmo tempo, eu sem conseguir conter as lágrimas (isso é que foi chorar!) e tu que nem conseguias falar! Para o ano, não é amigo?
A eterna tertúlia do ambiente... É uma sorte o Diogo não ter decidido nunca mais me falar! A Academia foi boa, muito boa. Ainda bem que foste, não teria sido a mesma coisa sem ti :) Um abraço *

SA. said...

Por ordem alfabética?
Porquê?

(Pode ser uma pergunta parva vindo de alguém que tem um blog [ultimamente] baseado na ordem alfabética, mas não é.
Não deve ser.)

Luisa Oliveira said...

Só uma questão de organização. Tão típica como outra qualquer :)

(nada parva. fiquei a pensar nisso)