Tuesday, September 11, 2007

Escolinha

Posso dormir contigo Mamy? Só hoje. Amanhã é o meu último primeiro dia de aulas. Tenho borboletas na barriga e a sensibilidade à flor da pele. Estou nervosa. Tal e qual como no primeiro dos primeiros, quando tu e o pai me abraçaram frente ao portão grande. Não argumentes que estou maior: o portão também cresceu, sabes? Logo, a proporção é a mesma. A situação é a mesma. Eu sou a mesma. Nesta altura volto a ser a criança que fui, sem um pingo de experiência de vida a mais. Não sei sequer que conforto do conhecido é esse de que falas. Tremem-me as pernas e brilham-me os olhos. Tenho medo e muito fascínio. Gosto disto. E o medo é exactamente esse: e se eu um dia me esquecer do quanto gosto disto?

11 comments:

Hugo da Graça Pereira said...

Não esqueces não que eu não deixo! Prometo! Afinal, tenho que servir pa alguma coisa ne? =)

Lenin aka JR said...

Eu não teria arranjado melhor maneira de descrever essa sensação "...o portão também cresceu, sabes?".

Por mais experiência que se tenha, acabamos sempre por nos deparar com um portão para o qual não temos a chave. E por vezes somos tão pequenos que até cabemos por entre as grades.

Só temos que seguir em frente, com confiança, e estar preparados para aceitar ou mudar aquilo que vamos encontrar do outro lado.

E não te preocupes, nunca te vais conseguir esquecer.
Acredita, eu sei ;)

Beijinhos.

Luisa Oliveira said...

Hugo - Uff, encontrei utilidade para ti. (brincaderinha, hem?) =)

João - É isso mesmo: por vezes até cabemos entre as grades mas estamos obsecados em conseguir a chave. Espero bem que não :)

Anonymous said...

Este texto lembra-me um teu post anterior, em que eu escrevi que o que distinguia as pessoas interessantes das outras era aquele brilhozinho nos olhos especial, tal como referiste agora neste texto.

É o último ano que regressamos às escolas que tão bem conhecemos, mas que neste momento são estranhas para nós, porque sabemos que dentro de pouco tempo as vamos abandonar para sempre em presença, mas nunca no pensamento.

As escolas são uma parte fundamental em toda a nossa adolescência: é lá que fazemos algumas das nossas mais importantes amizades, é lá que nos formamos como homens e ganhamos maturidade, é lá onde crescemos para o Mundo.


A tua escrita fascina-me!

Luisa Oliveira said...

Zé Rui - O tal brilhozinho nos olhos é indispensável. É ele que nos indica quem ainda é criança: que é o que queremos ser para sempre. E as escolas são locais incríveis: aprendemos, sonhamos, rimos, jogamos à apanhada, tornamo-nos ainda mais curiosos, choramos,... São locais de amadurecimento. Exactamente como tu disseste :)

Obrigado Zé, obrigado mesmo ^^

Rosa dos Ventos said...

E dormiste? ;-))
Bisous

Luisa Oliveira said...

Rosinha - Nada, nem um bocadinho! Passei a noite às voltas, à espera que o despertador desse acordo de si. E, de repente, entra-me o meu pai pelo quarto... Tinha-me esquecido de ligar a maldita tecnologia sonora!

Joana said...

não quero. não quero mesmo. desta vez não. mamy, deixa-me ficar na cama, enrolada, mais uns tempos. deixas?

desculpa não comentar o texto, para além de um excelente ou algo do género. tu sabes. dói-me a cabeça.

abracinho *

Luisa Oliveira said...

Ju - Não sou a tua Mammy mas também não te deixo ficar na cama. Vá lá, upa, está na hora. Um chocolate quente e passa a dor de cabeça. Não, não ficas na cama. Tens o portão à tua espera, pela última vez. E nós todos, do outro lado, para sempre, contigo.

Abracinho *

Beatriz Sousa said...

Será que algum dia vamos crescer mais do que o portão? Se tal vier a acontecer, será bom ou mau? Escreves maravilhosamente bem**

Luisa Oliveira said...

Beatriz - Vamos? Não sei, não sei mesmo. Um dia, se calhar. E não creio que seja necessariamente mau. Parece-me que vai ser só inevitável. Mas nada de medos: quando esse dia chegar, vamos estar preparadas. Obrigado :)