Wednesday, May 31, 2006

Quando a violência vai á escola

Estive ontem a ver o debate da estação pública acerca da violência nas escolas e houve algumas coisas de que não gostei. Também, verdade seja dita, só o apanhei a meio. Mas mesmo assim, tenho algumas críticas a fazer.
A primeira diz respeito à estrutura e organização das ideias em debate: achei que se misturou nova avaliação dos professores com incompetência, violência com indisciplina e indisciplina com adolescência.
Comecemos então por aqui. Quanto ao facto de os pais começarem a avaliar os professores, acho ridículo. Certo que esta não será a única alteração na avaliação dos docentes em questão mas foi, ontem, a mais polémica. Os alunos são avaliados por pessoas com diploma. Acaso vão também os pais tirar um curso destinado a avaliar quem avalia os seus filho? Os pais têm contacto com a maioria dos professores (exceptuando o Director de Turma) apenas através dos que lhes é contado pelos filhos. Se acho que os pais se deviam envolver mais na escola? Obviamente.
Outro assunto importante diz respeito à incompetência. Como em todas as áreas, há no ensino quem faça bem o seu trabalho e quem pura e simplesmente não o faça. Mas, e se todos já tivemos experiências de professores que são realmente maus naquilo que fazem, também todos sabemos que a maioria é relativamente boa. Gostamos mais de umas aulas e menos de outras, queixamo-nos tanto deles como eles de nós mas quantos são os que se “demitem” realmente da sua função? Espero estar enganada mas estou quase certa de que tudo isto vai alterar a relação professor/alunos e vice-versa para pior.
Também não percebi porque é que, pelo menos na parte que eu vi, não foi ouvido um aluno daqueles que “têm paciência para a escola”. E francamente, alguém me explica como é que em pleno século XXI alguém usa a justificação “não tenho paciência” para abandonar os estudos? Mas em que mundo vive esta gente? A escolaridade obrigatória deixou de ser há muito a meta de qualquer aluno com o mínimo de consciência. O objectivo base de todos devia ser o 12º ano ou equivalente.
Para concluir, digo apenas que é necessário falar mais dos bons exemplos. Não estou a dizer que se deixe de falar nos problemas, bem pelo contrário! Estou apenas a dizer que, na minha opinião, uma forma de resolver problemas relacionados com a indisciplina passa muito por fazer deles excepção, minoria. Tem muito a ver com o envolvimento. Por exemplo, numa turma em que um aluno se mete em cima da cadeira e diz “vá, levantem-se também” e outros lhe dizem “estás parvo? A cadeira é para te sentares, não para estares em pé em cima dela”, o professor quase nem precisa de intervir. Sentindo-se a excepção, o aluno em questão, quase de certeza que se senta e permanece calado o resto da aula… E como ontem foi dito, ainda bem que todos os alunos de vez em quando “se passam”, porque é deveras mais preocupante o adolescente que não “se passa” de vez em quando. E, ainda bem também, que o professor de vez em quando “se passa” com a turma. Nenhum aluno gosta mas todos sabemos o quão importante isso é.
Quanto à violência, o caso é diferente, necessita de uma intervenção mais profunda.
Em relação ao debate, concordei com umas coisas, com outras nem por isso, mas acho sempre saudável qualquer troca de ideias civilizada.

3 comments:

Hugo da Graça Pereira said...

Nao posso fazer lá um grande comentário visto que só vi alguns minutos do debate. Acho que concordo contigo em tudo o que disseste, e indubitavelmente a avaliação dos professores por parte dos pais quer parcer-me uma grandessíssima treta... Alguém me explica como é que, a título de exemplo, um camponês que nem tem a quarta classe vai avaliar o professor de Matemática do filho que está no 12º ano?? Epa, eu já tou a imagina-lo a dar palpites sobre cálculo diferencial... Plo amor de Deus tenham consciência. Por outro lado, uma coisa com a qual discordo, é o facto de a avaliação dos professores ter em grande conta a idade e os anos de serviço... Ora, claro que nao digo que são factores que devam ser ignorados, mas para mim não são, nem de perto nem de longe, os mais importantes. Acho que os professores deviam ser submetidos a um exame, digamos..., de 4 em 4 anos por exemplo; para avaliar, não apenas as suas capacidades técnicas mas também as pedagógicas. É certo que a experiência também é algo a ter em conta, mas parece-me erróneo dizer-mos que esta equivale ao número de anos de serviço; como dizia Shakespear: "Aprendes que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tiveste e o que aprendeste com elas do que com quantos aniversários já comemoraste". Mas denota-se neste tipo de decisões que realmente quem toma as medidas (refiro-me obviamente á Sra. Ministra da Educação) está sentadinho numa secretária num ministério perdido no meio de Lisboa. Daqui pode-se fazer uma analogia para o caso de as aulas continuarem até 23 de Junho; é claramente uma medida de gabinete pois se tivessem o mínimo de conhecimento sobre o que se passa no terreno, tinham consciência que a maioria das escolas não tem condições de espaço para fazer funcionar ao mesmo tempo aulas e exames nacionais.
Enfim, mas falando do tema do debate, a violência, parece-me importante que se tomem medidas rapidamente para tratar destes casos degradantes. Claro que as medidas do ministério que andam a diminuir o raio de acção dos docentes não são lá grande ajuda...imaginem lá uma professora da Zona J a pedir aos seus extremosos alunos que levem uns impressos de avaliações da sra professora para os papas preencherem quando tiverem uns minutinhos entre o julgamento sobre tráfico de drogas e a próxima negociata de tráfico de armas... Este país está definitivamente decadente...

Luisa Oliveira said...

Vocês os dois são das pessoas mais bem formadas que conheço. Bem, acho que nós pertencemos claramente aos poucos que ainda "têm paciência"...

Hugo da Graça Pereira said...

Epa isto vem aki uma pessoa de manha e ve logo aqui um elogio...foge anima logo o dia! Inda mais por vir de quem vem! Va bjao fico a espera de mais! :P