Monday, May 15, 2006

Quando "sobrevivência" se mistura com "crime", qual dos conceitos ganha?

“Procuramos qualquer lugar no mundo onde não haja guerra, onde possamos trabalhar para enviar dinheiro à nossa família e quem sabe, um dia, voltar ao nosso país”. Declarações de um dos inúmeros imigrantes clandestinos que todos os dias arriscam a vida e se submetem a condições sub-humanas na expectativa de encontrar paz. Provenientes de países em que “extremos” é a palavra mais adequada, encaram a Europa e a América do Norte como autênticos “cantinhos do céu”. E a verdade é que, apesar de tudo, são-no.
Estes homens e mulheres que comprometem tudo em nome da esperança sofrem no local de chegada, normalmente, um destes dois destinos cruéis: se não são apanhados, são vítimas de crimes como a exploração, o chauvinismo e a xenofobia; caso sejam capturados, são julgados no mesmo tribunal dos corruptos, dos assassinos, dos ladrões e de toda a escumalha restante, sendo repatriados com o rótulo de criminosos. Sê-lo-ão?

Será que lutar por paz, pela sobrevivência dos entes queridos é crime? Será que desejar uma vida que se possa considerar humana é crime? Será que fugir de todos os horrores a que uma pessoa pode ser submetida é crime? Será que violar burocracias que apenas existem no mundo civilizado para escapar ao incivilizado é crime? Penso que me basta dizer que, na mesma situação e se a coragem não me faltasse, faria exactamente a mesma coisa.
Grande parte dos conflitos universais podiam ser hoje resolvidos pelas potências mundiais. Acontece que isso nem sempre interessa a quem tem o poder. Com que moral condenam os países que podiam acabar ou pelo menos aliviar parte dos problemas da humanidade, estes imigrantes clandestinos?

Vivemos demasiado absorvidos pelo nosso quotidiano para pensar como será o dia-a-dia dos outros. Vivemos cada vez mais para a economia e acabamos por esquecer o lado social das coisas. A economia existe para servir as pessoas e não devemos deixar que sejam as pessoas a servir a economia. Atenção, não me interpretem mal: não estou, de modo nenhum, a dizer que a economia não é importante, bem pelo contrário! É ela que nos permitirá, se quisermos, modificar o planeta. É apenas uma questão de prioridades.

Mesmo na Europa há problemas sociais graves. Sejamos claros: só devia viajar quem trabalha, só devia possuir luxos como o mp3 ou o ir a cabeleireiros e costureiros conceituados quem se esforça nesse sentido, em suma, as “mordomias” deviam pertencer apenas a quem o merece. Mas toda a gente, independente de tudo, tem o direito a viver dignamente, com o básico para a sobrevivência. Toda a gente tem, ou devia ter, o direito de viver em paz, devia ter o que comer, o que vestir, um local onde dormir. É o mínimo!
Vivemos numa sociedade em que os ossos são dados aos cães mas onde mantas são negadas a mendigos. Não se trata de merecer ou deixar de merecer, trata-se de justiça social!
Para além de indivíduos, somos pessoas. E felizmente há quem não se esquece disto. E é nessas Pessoas em quem credito. É nessas pessoas, que mantêm os ideais presentes num mundo como o nosso que depositarei toda a minha confiança e que procurarei ajudar nesta luta.
Temos o poder de pensar e de agir. Não se esqueçam disso.

3 comments:

Hugo da Graça Pereira said...

Bem as politicas de emigração, incluindo a do nosso atrasado país, são sempre assuntos melindrosos. É complicado quando estão em jogo interesses que, embora não tenham de ser antagónicos e incompatíveis, são normalmente opostos: os dos que já cá estão e os dos que para cá querem vir. Concordo, até certo ponto, quando se fala de cotas para o número de emigrantes a aceitar num ano, pois as nações não se podem continuar a comprometer a aceitar emigrantes quando na prática não têm condições para os manter. Mas independentemente de tudo isto, nada é justificativo e principalmente legitimador de políticas que tratem estes indivíduos, que como disseste são pessoas, seres humanos, abaixo de cão! Eu sei que agora não largo esta mas enfim; peguemos na citação de John Donne: "No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continet, a part of the main". Assim como acontece com os homens o mesmo acontece com as nações. Nenhuma nação é uma ilha isolada. Cada uma é parte de um conjunto que a ultrapassa em larga escala. A nação deve ter então a obrigação não de fazer apenas o melhor para si mesma mas também o melhor para o conjunto. Se isto é justo ou não, não faço a mínima ideia; mas o facto é que não podemos pensar que viver em "aldeia global" é so teclar com pessoal do outro lado do mundo; acarreta responsabilidades e contrapartidas que temos de assumir e honrar. Bem já me alonguei demasiado; resumindo Ana, concordo contigo, é vergonhoso a estado a que vemos chegar os emigrantes.
Ah claro que o texto ta excelente, mas não se esperava menos de ti né?

Anonymous said...

e kem são essas pessoas?

Luisa Oliveira said...

pessoas com valores e força para os impôr. felizmente ainda há muitas