Friday, April 27, 2007

O Arco-Íris Desaparecido

(Para a rapariga dos cabelos cor-de-rosa)
“Uuuh, arco-íris! Ei, arco-íris!”
Choveu e fez sol, mas nada de arco-íris. Recusou-se a aparecer, mesmo quando chamámos por ele em cima dos bancos do jardim. Corremos pela mata, procurámos debaixo dos baloiços, revistámos os cacifos suspeitos, vasculhámos entre os vimes do lago. Nada, não estava em lado nenhum.

“Bolas, tem que haver uma razão!”
Pesquisámos em livros, perguntamos a eruditos, pedimos os pozinhos à Sininho. Nada, nem uma mera hipótese conseguimos formular.

“Pensa, pensa!”

O sol não foi suficientemente forte, só isso. Não podes esperar que há primeira nesga o arco-íris venha. Ele é o símbolo da vitória. E a terra ainda nem secou…

Wednesday, April 25, 2007

Novas Oportunidades

Tem havido muita polémica à volta dos anúncios da campanha “Novas Oportunidades”, que mostra o percurso que várias figuras públicas poderiam ter tido se não tivessem estudado. As críticas voam de todo o lado: é acusado de humilhar e menosprezar determinado tipo de empregos e de distinguir “o bom do mau” em função das qualificações académicas.

Li recente um artigo do José Diogo Quintela, com o qual não pude deixar de concordar plenamente. Obviamente que todas as pessoas são necessárias à sociedade e que todas as profissões são notáveis, quando desempenhadas com empenho e profissionalismo. É ridículo pôr isso em causa. Tal como é pacóvia a ideia de que toda a gente tem que ser doutor ou engenheiro (viu-se recentemente o provincianismo, aliás).

No entanto, eu não conheço nenhuma criança que, ao ser questionada sobre a profissão que gostaria de exercer aquando o crescimento, responda “empregada doméstica” ou “limpa-chaminés”. E tal como uma mãe não põe sequer a hipótese que um filho abandone os estudos precocemente, porque quer o melhor para ele, um país também quer o melhor para os seus cidadãos.

Pessoalmente, considero o nome da campanha muito feliz. As pessoas são livres de abandonarem os estudos após a conclusão da escolaridade obrigatória. Porém, não o devem fazer por não terem tido outra oportunidade ou por falta de informação!

“Aprender compensa”. E não é só o saber universitário.
(O certo é que o objectivo da publicidade é criar polémica e marcar. E lá isso, eles conseguiram!)

"A Morte saíu à Rua"


A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome para qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue de um peito aberto sai


O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte: o Pintor morreu


Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou


Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação

Zeca Afonso

O Pintor não morreu, o Pintor foi assassinado.

Arrepio-me toda com esta canção.

Hoje sinto orgulho em ser portuguesa.

Saturday, April 21, 2007

Tempo(s); pessoa(s)

Foi há um ano que ela (a dos cabelos cor-de-rosa) o conheceu. Hoje é que faz mesmo um ano. Parece que foi há mais tempo? Parece. Mas é mesmo assim, o tempo espacial e o psicológico nem sempre estão de acordo. Há coisas que parece que foram ontem e se passaram há dez anos, há outras que aconteceram ontem e, no entanto, estão gravadas na memória da mesma maneira que as recordações realmente antigas.

Tal e qual como as pessoas: marcam-nos durante diferentes períodos de tempo. Uma tarde, duas noites, meses, anos, para toda a vida. Durante a infância, a fase do liceu, a independência da década dos 20 (anos), o vizinho do lado da velhice, ou, para toda a vida.

Há outras que, para além de serem para toda a vida, marcam um ponto de viragem. Passa a haver o antes e o depois.

No entanto, e apesar de todos os dias e pessoas serem importantes, porque, no fundo, fazem parte da nossa vida e não podia haver motivo que as tornasse mais indispensáveis, há a(s) pessoa(s) que faz(em) parte de nós. Para essa(s) não há nenhum antes nem depois, não há o “para a vida”. Há sim o “durante”. Porque faz(em) parte de nós desde sempre: podemos não ter simplesmente a sorte de a(s) ter conhecido(s) fisicamente desde o principio. Mas há alguém que duvide realmente que estava(m) cá?

PS- Qual é o caso dela?
PPS- (O meu, eu sei qual é).

Thursday, April 19, 2007

Sininho

Encosta a tua mão ao meu peito e sente. Percebes? Agora encosta ao teu. Estás viva Sininho! Que queres mais? O resto depende de ti.

“Às vezes até parece que andamos fora de mão. Às vezes até parece que amamos fora de mão." Dá uma guinada forte e põe-te no sítio.

Sunday, April 15, 2007

Um ano depois (Luis Represas)

Estava para escrever “Um ano depois – a decadência!”. Mas não houve decadência nenhuma. Na prática, foi só uma continuação. Há concertos em Fátima, nós vamos. Simples.

Quanto à rapariga dos cabelos cor-de-rosa, os medos dissiparam-se (?). As pernas ainda lhe tremeram um bocadinho à entrada mas aguentou-se bem. Além disso tinha outras coisas em que pensar (por exemplo, qual a melhor maneira de criticar a amiga do outro amigo). Ou seja, eu a pensar que hoje fazia um grande post, a abarrotar de hipérboles, e ela destruiu-me o tema. Sim, porque se não for ela, isto fica curto.

Claro que há sempre coisas de que falar. Afinal, um concerto em que a média da faixa etária às 21h40 (o concerto começava às 21h30) rondava os 50 anos, tem que ter coisas para contar. Mas enfim, lá para as 22h já não nos sentíamos tanto uma ilha (começaram a chegar crianças de 5 e a média equilibrou). Posso começar por referir, só para motivar a leitura, a entrada triunfante da rapariga dos cabelos cor-de-rosa na casa de banho… dos homem!
Antes das luzes se apagarem ainda houve tempo para um punhado de parvoíces. Deu para tirar umas fotos um tanto ou quanto apatetadas (nesta parte a Sininho vai-se lembrar da tal foto e corre o risco de cair da cadeira de tanto rir) e para o simpático senhor da fila da frente nos advertir cordialmente de que caso a barulheira continuasse nos punha na rua a pontapé (estive mesmo para lhe responder “- Eu já fui expulsa de uma galeria do British Museum por um homem com o dobro do seu tamanho e uma metralhadora nos braços. Acha que me intimida??”).

O concerto em si foi muito bom. Muito bom mesmo. Boa música, boa presença, bom espectáculo. E muito boas letras, como disse a Sininho. Capazes de provocar sentimentos fortes.

Em memória ao ano passado, fila de autógrafos. Nesta parte ela estava claramente nervosa. Compreende-se. “Estou a 5 metros de ti”. Lá se foram as defesas, a miúda ia desfalecendo. Claro que não é a mesma coisa, afinal, passou-se um ano. Não estávamos “gargalhadamente bêbedas” mas a situação era incomodamente semelhante. Não nos convidaram para irmos para uma garagem, de carrinha, mas falaram numa discoteca qualquer e voltaram a dizer mal do Arte. E ela fugiu. Deixou-o lá, decepcionado, e fugiu. Serão as muralhas tão fortes como aparentam?

Enfim…
"- Podia pedir ao seu pianista para nos dar um autógrafo?"

“- Eu a dormir na aula e o Mário João a tirar os apontamentos para mim”
“- O Mário João? Pensei que era a Luz que te fazia as anotações!”

“- Aposto que ela calça o 34”
“- Sininho, calças que número”
“- O 34!”

“- Então, tu és presidente, ele é primeiro deputado, tu és suplente do Colégio. E tu, que calças o 34, és o quê?”
“- Só uma aluna”
“- Já és mais que o Gonçalo”
(Ah, claro, ainda falta a aposta! Uma tablete de chocolate das grandes!)

Thursday, April 12, 2007

Está-se tão bem...

... quando se está feliz!

"estranhamente bem".

Wednesday, April 11, 2007

Mal/bem-me-quer

Na minha primeira infância, em casa da minha avó, eram os malmequeres campestres que decidiam o desfecho das histórias de bonecas que inventava. Ia retirando as pétalas, uma a uma, numa ilusão e abstracção absurdas. Repetia baixinho a cantilena “bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer…” e, dependendo do resultado, a boneca heroína tinha ou não o destino de sonho de qualquer criança.

Parecia-me um bom método! Afinal de contas, ilibava-me de todas as responsabilidades! No entanto, um dia destes, ao arrancar, distraída, uma das tais flores, pus-me a pensar. Que flor tão pessimista! À partida, só pelo nome, malmequer, pressupõe um resultado negativo. Não é lá muito honesto, na minha opinião. De certeza que foi alguém com muito pouca sorte que deu o nome à pobre flor. Se temos 50% de probabilidade de que a última pétala seja “bem-me-quer”, porquê escolher a opção mais derrotista para nome?


Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer,


bem-me-quer.




Sunday, April 08, 2007

Galinha da Páscoa

Ovos da Páscoa. Coelho da Páscoa?


Não tinha mais lógica uma Galinha da Páscoa?

Thursday, April 05, 2007

Toledo

Aqui, sob a sombra da fachada dos prédios, iluminados pela luz ténue dos candeeiros de rua, os sentimentos ganham forma, tonificam-se e aperfeiçoam-se. Os passeios ondulam à nossa passagem. As árvores acenam, o barulho dos carros ao longe soa a música. As pessoas passam por nós e sorriem, em sinal de concordância de emoções. Apetece abrir os braços e rodopiar, lançar a cabeça para trás e rir abertamente, de felicidade. Porque não? É o que fazemos. A cidade-museu abraça-nos, aconchega. E a cumplicidade
cresce.

Aqui, sob a sombra da fachada dos prédios, iluminados pela luz ténue dos candeeiros de rua, a vida adquire uma simplicidade infantil. E, no entanto, é o crescer que se sente. E é essa nova maturidade que nos leva a falar connosco mesmos, como numa conversa serena e franca com o melhor amigo. Voltamos a abrir os braços e a rodopiar.

A cidade de conto de fadas tem vida.