Sentei-me no chão da sala com as pernas cruzadas e um copo de chá à frente. Encostei as costas à parede, deixei tombar a cabeça para trás e fechei os olhos. São horas de me dar tempo, de aceitar as férias de vida que me são impostas. A porta da sala e vão entrando pessoas. Entrando não! – Desfilando. Vão passando pessoas do quotidiano, com conversas banais e de segundos que, no instante seguinte, se desvanecem no ar. As pessoas e as conversas. E eu fico a assistir àquilo tudo enquanto trauteio pensamentos soltos.
Não posso dizer que esteja desconfortável: visto uma camisola de lã preta e umas calças de fato-de-treino roxas; tenho um gorro e umas meias fortes, daquelas que são aderentes a determinados pisos. Não “ligam alhos com bugalhos”, nada combina com nada, poder-se-ia dizer que estou ridícula. Contudo, fisicamente confortável, quente.
Por entre a multidão que entretanto se juntou (deve ser hora de intervalo!) vou descortinando rostos. A Maria acena-me, enquanto um sorriso lhe baila na cara. Está a falar com alguém que está de costas para mim. Não me apetece levantar; retribuo o cumprimento e desenho um sorriso ténue.
Mais pessoas, muitas pessoas. A minha turma ao canto, o pessoal do Instituto em roda, os meus pais junto àquela coluna. A Sininho voa por cima das cabeças, o Hugo está em mim, os meus amigos andam por ali, entretidos nas suas vivências. De vez em quando passam por mim, acarinham-me os cabelos e percebem tudo. (Tu não estás, e é isso que torna a tua presença tão marcante.)
Fecho novamente os olhos, numa tentativa de falsa abstracção. O barulho da corda do relógio irrita-me, atiro-o pela janela (a minha pontaria sempre foi motivo de orgulho). Shiu, pronto, deixem-me ficar. No próximo intervalo já me levanto e interajo com a sala.
Não posso dizer que esteja desconfortável: visto uma camisola de lã preta e umas calças de fato-de-treino roxas; tenho um gorro e umas meias fortes, daquelas que são aderentes a determinados pisos. Não “ligam alhos com bugalhos”, nada combina com nada, poder-se-ia dizer que estou ridícula. Contudo, fisicamente confortável, quente.
Por entre a multidão que entretanto se juntou (deve ser hora de intervalo!) vou descortinando rostos. A Maria acena-me, enquanto um sorriso lhe baila na cara. Está a falar com alguém que está de costas para mim. Não me apetece levantar; retribuo o cumprimento e desenho um sorriso ténue.
Mais pessoas, muitas pessoas. A minha turma ao canto, o pessoal do Instituto em roda, os meus pais junto àquela coluna. A Sininho voa por cima das cabeças, o Hugo está em mim, os meus amigos andam por ali, entretidos nas suas vivências. De vez em quando passam por mim, acarinham-me os cabelos e percebem tudo. (Tu não estás, e é isso que torna a tua presença tão marcante.)
Fecho novamente os olhos, numa tentativa de falsa abstracção. O barulho da corda do relógio irrita-me, atiro-o pela janela (a minha pontaria sempre foi motivo de orgulho). Shiu, pronto, deixem-me ficar. No próximo intervalo já me levanto e interajo com a sala.

Descobri um pau de giz e entretenho-me a fazer desenhos no chão. Os meus 17 anos estão a envelhecer na mesma proporção em que se infantilizam.
16 comments:
Acreditas que devorei cada palavrinha sempre à espera que aparecesse um senhor como... "aquele" do outro dia.
Não há "senhor" (meu deus, que senhor!) mas eu gostei^^
Sarinha - Não te podia roubar a ideia dessa maneira! Além disso, ainda não consegui criar o meu próprio "senhor", tal estou apanhadinha pelo teu!
PS - Consegui um gorro daqueles! Ah pois é ^^
:|
não conseguiste nada... *inveja*inveja*
isso na minha terra chama-se "mete-nojo" =x (mas eu também vou conseguir um, oh se vou!)
às vezes é melhor ficar à parte e poder observar os outros. ultimamente até me tem faltado tempo para fazer isso. mas olha, posso-me sentar ao teu lado num intervalo?
"Os meus 17 anos estão a envelhecer na mesma proporção em que se infantilizam."
O mesmo acontece comigo. E já só tenho 3 meses e pouco para desfrutar o que resta dos meus 17 anos, antes de entrar naquela idade critica -» "os 18"
Quanto ao texto está absolutamente fenomenal. Conseguiste pôr a minha cabeçinha a imaginar a Ana Luísa sentada no chão de uma sala e toda aquela agitação à sua volta, como se tudo fosse real e estivesse a acontecer agora mesmo à minha beira.
Beijinho*
Ju - Anda, vou guardar um quadrado de mosaico para ti ^^
Zé - :) Que bom, era isso mesmo que eu queria. Obrigada!
Gostei mesmo, muito. :D
Não me canso de te dizer que adoro a maneira como pões as pessoas a visualizar aquilo que descreves.
Não é por acaso que foste eleita (por mim) a melhor escritora de 2007. ;)
Beijos
"Não é por acaso que foste eleita (por mim) a melhor escritora de 2007. ;)"
:') mas ainda restam dúvidas?
minha querida ana...
finalmemte consegui ter um tempinho livre para vir comentar o teu blog !
mais uma vez, volto a dizer-te que a tua forma de escrever, a que chamas " formal slang" é bem mais que isso. deixas transparecer tanto do que és ...
revejo a ana luisa em cada gesto, fragilidade, sentimento que enquadras na vida que dás às frases.
por momentos esqueço me do blog e fico ali do teu lado a ver a multidão a passar, a admirar-te e a estudar o teu carácter puro que tive a felicidade de conhecer.
a pensar que existem pessoas que com os tais 17 anos são tanto e possuem tanta consciência e razão.
Fico ali, enternecida e imóvel,a observar cada comportamento, cada forma de estar...as pessoas têm muito que se lhes diga.
E há tanto por desvendar nesta nossa infância pré maioridade.
Fico ali sim. E não saio de lá até que as horas me chamem para mais uma obrigação e fica apenas a reflexão dos momentos que proporcionas a cada um de nós com o teu " formal slang ".
Regresso à cadeira desconfortável e à caixinha quadrada, mas agora estou mais livre de pensamentos...
afinal de contas podemos ser sempre mais se tentarmos. se abrirmos os olhos para a vida e para o que nos rodeia, se soubermos aproveitar e desfrutar de cada oportunidade, cada momento, cada vivência...
Isso faz-nos ser mais pessoas. mais parte de tudo e todos.
Adoro-te,
Raquel
Este comentário é para responder à Joana ;)
Não, não restam dúvidas... eu é que adoro constatar o óbvio... Só para o caso de apanhar pessoas menos atentas ou mais distraídas :)
E é sempre uma boa forma de reforçar a minha posição e acentuar as características intrinsecas dos intervenientes. (se alguém souber o que isto quer dizer, agradeço que me expliquem) ;)
Beijos (para a autora do blog e para a amiga da autora)
perfeitamente banal e inestético, absoluta devoção .. absoluto quotidiano ! amei
Obrigada ^^
Posso pegar num pauzinho de giz e ficar aí, a desenhar, contigo ?
O' fada madrinha, gosto tanto de ti !
A&A
toma lá um beijinho minha amiga ana :)
Gabi - Podes sim, anda :)
Sara - Outro ^^
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