Tuesday, November 06, 2007

Bip-bip

Movimentos de corpos e de pessoas, manchas intensas de luz e sombra. É o dia das visitas por excelência, é o dia dos abraços tremidos ou do primeiro choro. Isto é o centro do mundo, onde se acaba ou se começa, por onde se passa, por onde se tropeça.
Metade da multidão traja pijamas; a outra parte veste cores garridas, de formato não estereotipado. Cada pessoa que passa por mim é alguém. Têm uma vida, tal como eu. E são tantas! O mundo, lá fora e cá dentro, não pára. Os acontecimentos sucedem-se, interligam-se, emancipam-se, esquecem-se. Mas acontecem, vão acontecendo.
Alguns dos que se passam cá dentro merecem aplausos completos, daqueles que são uma sequência de risos, sorrisos e palavras vãs. Aplausos daqueles que dispensam palmas. São histórias bonitas e anónimas que não se repetem nunca mais porque, quanto mais não seja, o elenco é diferente.

Outro bip-bip apressado a sair do bolso da bata branca de um enfermeiro cansado. Tudo é vida, até os objectos inanimados. E por duas razões: são fruto dela e existem para ela. Tal como nós, embora com diferenças perceptíveis.

Depois de uma tarde aqui, sentada numa cadeira de plástico, fria e desconfortável, sinto-me meia morta. Não pela dormência das pernas ou por qualquer outro factor físico. Sinto-me mentalmente parada, emotivamente só. Revejo as actividades que faço, aquilo com que preencho os meus dias e não fico melhor: falta qualquer coisa, uma ausência marcante de uma presença em falta. Sou jovem e as revoluções do tempo em que eu nasci já não se fazem de bandeira em punho: há outras maneiras, mais directas, e, acredito eu, mais eficientes.

Dia 1 e 2 de Dezembro, Campanha do Banco Alimentar Contra a Fome. Participem.

3 comments:

SA. said...

Curioso, ainda hoje comentei com alguém que as revoluções já não são o que eram.
Curioso, eu acredito que as que levam bandeiras em punho funcionam melhor.

Ou não, ou não. ^^

Joana said...

não me vem nada de jeito à cabeça para te escrever um bonito e elaborado comentário. mas será que ele é preciso?


adoro-te, pô, tu sabes.. *


(como está o meu Pronto? :))

Luisa Oliveira said...

Sarinha - Será que funcionam? Eu acho que, hoje em dia, é preciso bem mais do que bandeiras de punho ^^

Ju - Não, não é preciso. Eu também te tenho muito em conta, pequena :)
(Óptimo, comportamento exemplar. Comeu a sopa toda, vê lá tu!)