“Falhámos a vida menino!” (“Os Maias”, Eça de Queirós)
Eu ainda não tenho idade para ter falhado grande coisa, diriam alguns. Aos 16 anos (quase 17), é-se demasiado novo quer para o sentimento conformista que a frase entre aspas implica, quer, vendo as coisas por outro lado, para já se ter “vencido (n)a vida”. No fundo, este meio-termo que comummente apelidamos de adolescência, não passa, aos olhos de parte da sociedade, de um compasso de espera. Com caras de palermas alegres, temos mais é que ir observando e aprendendo, ao mesmo tempo que aguardamos a nossa vez de dar/deixar (ou não) ao/no Mundo o nosso punho e contributo pessoal.
Há uma série de coisas que temos que aprender e interiorizar antes de nos transformarmos em “nós”: como se a nossa essência estivesse congelada cá dentro, há espera do momento oportuno para entrar em ebulição e “sair da toca”. Ora se espera muito de nós, ora somos ignorados. Na verdade, nunca cheguei a perceber muito bem o que pretendem: o nosso Mundo é, a muitos níveis, mais complexo do que o dos nossos pais, pelo que é, à partida, mais difícil ser-se jovem nele. Pressão (de todos os lados e de todas as formas), opressão, ansiedade and so on. As dificuldades são conhecidas, pelo que não me arriscarei a perder a vossa atenção (?) ao enumerá-las exaustivamente. No entanto, ao mesmo tempo que as notas na pauta chegam a ser seguidas com a atenção doentia de quem vê e analisa rankings de escolas, e, paralelamente, nos vão perguntando “o que/ quem queres vir a ser?”, obrigam-nos a espreitar por cima do ombro dos pais para tomar parte nas “conversas de adultos” que estão a decorrer em círculo fechado.
Ser adolescente é uma fase de transição. Mas é uma fase que existe, que é real e que tem um presente. Caracteriza-se pela ânsia de um futuro que se adivinha próximo e pela forma dúbia com que nos encaramos a nós mesmos mas também pela maneira pouco concreta como somos olhados. Nem na fase adulta as coisas são lineares: somos sempre seres mutáveis, Górgias muitas das vezes, em transformação constante.
“Vocês são o amanhã”. Muito obrigado mas “o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em pedaços ao chão” (“On being human”). Atrevamo-nos, por isso, a ser o hoje. Sem pretensões de invadir o espaço de ninguém, obviamente…
Nota: Claro que este pequeno texto é muito geral. E tem contexto próprio. Há quem cultive a situação inversa: mas talvez não sejam “adultos crescidos”. E, talvez por isso, alguns deles tenham quase tantas dificuldades de afirmação como nós…
Eu ainda não tenho idade para ter falhado grande coisa, diriam alguns. Aos 16 anos (quase 17), é-se demasiado novo quer para o sentimento conformista que a frase entre aspas implica, quer, vendo as coisas por outro lado, para já se ter “vencido (n)a vida”. No fundo, este meio-termo que comummente apelidamos de adolescência, não passa, aos olhos de parte da sociedade, de um compasso de espera. Com caras de palermas alegres, temos mais é que ir observando e aprendendo, ao mesmo tempo que aguardamos a nossa vez de dar/deixar (ou não) ao/no Mundo o nosso punho e contributo pessoal.
Há uma série de coisas que temos que aprender e interiorizar antes de nos transformarmos em “nós”: como se a nossa essência estivesse congelada cá dentro, há espera do momento oportuno para entrar em ebulição e “sair da toca”. Ora se espera muito de nós, ora somos ignorados. Na verdade, nunca cheguei a perceber muito bem o que pretendem: o nosso Mundo é, a muitos níveis, mais complexo do que o dos nossos pais, pelo que é, à partida, mais difícil ser-se jovem nele. Pressão (de todos os lados e de todas as formas), opressão, ansiedade and so on. As dificuldades são conhecidas, pelo que não me arriscarei a perder a vossa atenção (?) ao enumerá-las exaustivamente. No entanto, ao mesmo tempo que as notas na pauta chegam a ser seguidas com a atenção doentia de quem vê e analisa rankings de escolas, e, paralelamente, nos vão perguntando “o que/ quem queres vir a ser?”, obrigam-nos a espreitar por cima do ombro dos pais para tomar parte nas “conversas de adultos” que estão a decorrer em círculo fechado.
Ser adolescente é uma fase de transição. Mas é uma fase que existe, que é real e que tem um presente. Caracteriza-se pela ânsia de um futuro que se adivinha próximo e pela forma dúbia com que nos encaramos a nós mesmos mas também pela maneira pouco concreta como somos olhados. Nem na fase adulta as coisas são lineares: somos sempre seres mutáveis, Górgias muitas das vezes, em transformação constante.
“Vocês são o amanhã”. Muito obrigado mas “o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em pedaços ao chão” (“On being human”). Atrevamo-nos, por isso, a ser o hoje. Sem pretensões de invadir o espaço de ninguém, obviamente…
Nota: Claro que este pequeno texto é muito geral. E tem contexto próprio. Há quem cultive a situação inversa: mas talvez não sejam “adultos crescidos”. E, talvez por isso, alguns deles tenham quase tantas dificuldades de afirmação como nós…