Monday, June 18, 2007

"Anda daí, já chega"

Envolveu-se nos seus próprios braços em desespero profundo.
A necessidade de um simples abraço, físico ou emotivo, fazia-se sentir mais do que nunca. Não um abraço “químico”, nas duas interpretações que a palavra possa ter. Conforto. Apenas isso.
Colo, aconchego. Fazia calor mas, ainda assim, tapou-se “até ás orelhas” com o frouxel ao xadrez, desejando que o calor que a fazia transpirar fosse, por osmose, transferido para o interior de si.
Puxou os joelhos e encostou-os ao peito. Respirou fundo e tentou, um pouco em vão, controlar os soluços. Tentou concentrar-se em coisas absurdas: “preciso de trocar a fronha a esta almofada”. Escapa um choro mais forte. As mãos tapam a boca, pouco depois de ele ter fugido… Nada a fazer, já ecoava pelo quarto. Bateu nas paredes, fez ricochete e atingiu-a em cheio na alma, provocando um suspiro que se alongou até ao outro dia de manhã.
Os pesadelos da noite agarraram nela e furaram-lhe o coração. O sangue jorrou, fazendo alastrar uma mancha negra dentro de si mesma. Abriram-lhe os pulsos e, de dentro deles, sugaram a força. Voltaram a coser-lhos, como se nada se tivesse passado. Mandaram-na levantar-se, apesar da fraqueza e debilidade, mais do que evidentes.
Caiu no chão, redonda. Entreabriu os olhos e, por causa do esforço, desfaleceu.

“Anda daí. Já chega.”

Notar
“Químico”:
- comprimidos
- paixão

1 comment:

Lenin aka JR said...

Por vezes precisamos de alguém,
Alguém que nos oiça,
Que nos compreenda,
Que nos abrace... apenas.
Por vezes quem está ao nosso lado não se apercebe sequer da nossa necessidade. E, por vezes, somos muito orgulhosos e inseguros para pedir.

Mas, também por vezes, basta uma palavra ou um olhar para que esse alguém nos conforte, incondicionalmente.

Gostei muito.
Beijinhos.