Sunday, August 05, 2007

A regressar de nunca ter partido

Dá-me um beijo ruidoso na face. Abraça-me com força, até eu sentir a cabeça a andar à roda e os pulmões a implorarem por oxigénio e diz que gostas de me ver, que tinhas saudades minhas e que estou com um ar saudável de maresia e sonhos.
Dá-me tempo de olhar para ti. Sempre o mesmo, os mesmos tiques de intelectual, a mesma força meiga. Oh meu querido, que falta me fizeste!
Olha-me nos olhos;
“- Como foram as férias?”
“- Boas. E as tuas?”
“- Também”.
A cumplicidade transborda dos sorrisos, dos gestos, da alma. E o Mundo desvia-se de nós, de esguelha, de inveja.
Gritas-lhes que dor de cotovelo é uma coisa muito feia, dás-me o braço e levas-me para um jardim.
“- Tenho tanta coisa para te contar!”
Não precisas, eu sei tudo. Estava lá, lembraste? No Tamisa, nos passeios e nos candeeiros de Londres, nas fachadas dos prédios. Estava em ti. E tu em mim, enquanto deambulava pela praia, a pensar se a minha vida está certa enquanto repetia sistematicamente que a vida não precisa de um certificado de validez.
Sente o meu bronze na tua pele e nota como o meu inglês melhorou. Deixa-me encostar a cabeça no teu ombro e rir, deixa-me dizer-te que tens razão, que vou seguir com a minha vida e ser feliz sem dizer nada a ninguém. Passa-me a mão pela cabeça, faz papel de pai. E deixa-me perguntar-te se usaste boné e atravessaste sempre na passadeira.
Amo-te. Oh, amo-te tanto! Não enquanto rapaz, isso seria restringir a importância que tens na minha vida. Amo-te enquanto pessoa, amo-te o mais que se pode amar um amigo.
Gritemos juntos, a uma só voz, baixinho. Está sol de Setembro, apesar de ainda ser Agosto, e o vento acaricia-nos.
Prometo-te: mesmo que um dia a vida te leve para longe, eu estarei sempre perto. Quanto mais não seja, nas recordações, no coração. Fazes parte das minhas estruturas, somos cada um uma parte que já não cabia no outro e que, por isso, nasceu à parte.
Fica comigo Amigo. Fica em mim e deixa-me ficar em ti.
Anda, vamos ouvir Jorge Palma e ler Mafaldinha. Anda, vamos provar que a amizade é uma coisa concreta. Anda, vamos simplesmente estar um com o outro.

9 comments:

Rosa dos Ventos said...

Vai e aproveita bem o teu tempo!
Os momentos mágicos são irrepetíveis...
Bjs

Rita said...

Estranha amizade, sim, mas das mais belas :)

Obrigada pelo link :P
Também estás nos meus xD

Bartolomeu said...

Que força Luisa!!!!
Não foi só o teu inglês que melhorou, a tua escrita reforçou-se amadureceu, a tua alma ganhou uma maior dimensão, és mais mulher.
Feliz regresso Luisa, linda Luisa!

Hugo da Graça Pereira said...

Ai pah, e é tão, tão bom saber que este post é pra mim!! :) pronto, tou p'r'aqui inchado de orgulho!! :D
a rita chamou-lhe estranha, eu diria antes diferente. Mas sim, acho que é. Por que é única e fora do normal! E ainda bem que assim é! :D foi simplesmente óptimo estar contigo outra vez, ver-te de novo, olhar-te de novo nos olhos e ver esse brilho de criança nessa mente e corpo que já são de mulher. E eu não te vou perder porque eu não deixo, o que será o mesmo que dizer tu não me vais perder porque tu não deixas..os nossos eternos problemas de identidade que só nós precebemos na plenitude! ok, vá, na quase plenitude.
Tb te amo rapariga, porque o amor não é aquela coisa banal que a maioria acha que sente pelo sexo oposto, mas algo bem mais profundo que isso. E, acredita, amo-te com toda a força do meu ser. Pelas gargalhadas, pelas conversas sérias e pelas filosóficas também..ah e pelos teus conselhos amorosos muito apropriados :P
olha, simplesmente gosto da maneira como me vês, como me deixas ver e como vês o Mundo. Gosto da coisa bela em que tornas a minha vida (ou a tua vida?..olha não interessa!) :)

Obrigado (haverá algo mais a dizer?)

Luisa Oliveira said...

Rita: Não é necessáriamente estranha. É só... Muito boa. É uma pessoa que eu conheço há muito tempo, com a qual partilhei e continuo a partilhar muitas coisas. Principalmente o crescimento e a amizade :)

Rosinha: Vem também. Vamos aproveitar um bocadinho de tempo juntas e construir mais momentos mágicos :)

Bartolomeu: Já sentia saudades das tuas visitas! Mais mulher ou não, um grande abraço e um obrigado sincero.

Hugo: Just it. Thank's.

Tiago Ramos said...

Fiquei emocionado. A tua escrita amadureceu tanto, tão melhor, tão mais profunda, tão sentida.
Não acho esta amizade estranha. Sei o que é sentir este amor. Não é uma banal amizade, é um amor profundo, sem complexos, sem preconceitos, sem medo de abraçar, de acarinhar, de conhecer melhor. E tudo porque é um simples amor sem sexo. Aquele que nos deixa mais completos que qualquer outro.

Luisa Oliveira said...

Não sei se é bem isso Tiago. Diria antes que é uma amizade sem sexo. Porque estamos a tratar mesmo de amizade, daquela que não se costuma ver entre um rapaz e uma rapariga. Porque a sociedade definiu que os sexos são para acasalar e não para serem amigos.
Esse amor de que falas é de outra dimensão. Uma que também já experimentei. Igualmente boa, de maneira diferente.

É tão bom ter os teus comentários de volta! Obrigado por todo o apoio :)

Tiago Ramos said...

Não, Luísa. Eu falo em amor, porque a amizade pura é amor. O amor não é só aquele que existe entre homem e mulher (ou entre o mesmo sexo), o amor pode ser familiar, pode ser de amigo. Eu amo os meus amigos, muito mesmo. E é um amor puro, completo, único.

Luisa Oliveira said...

Tiago: Não posso concordar mais. Interpretei mal o primeiro comentário, desculpa. É isso mesmo, tens toda (mas mesmo toda) a razão.