Monday, December 31, 2007

2008

2008 vai ser um ano de mudança. Com o seu quê de continuidade, claro está, mas, ainda assim, talvez um dos anos de maior ruptura que posso esperar.

Hoje não estou para discursos. E, em vez de desejos, tracei antes 12 objectivos. Se se concretizarão é uma coisa que não posso saber com esta antecedência: ainda assim, sendo objectivos, dependem muito mais de mim do que da sorte (da qual eu serei uma eterna desconfiada).
Ora, portanto...

1- Entrar na Universidade (primeira opção e primeira fase);
2- Gostar do curso, adaptar-me, ter notas decentes, arranjar casa (mantê-la arrumada), sobreviver às praxes, começar a construção de uma vida independente sem grandes dificuldades;
3- Obter o DELE (Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira) de Nível Inicial com boa nota;
4- Um bom percurso no Parlamento dos Jovens;
5- Uma boa Academia de Verão (U.A.) + (muitos) Encontros de Sainettes;
6- A viagem;
7- Muitas tardes no Alfa, com a dona Sandrina (bem como em todos os outros cafés que hei-de aprender a frequentar);
8- Muitas viagens de comboio (e teatros, musicais, concertos, exposições, compras..!);
9- Muita inspiração (que, como se nota, tem feito falta) + comentários no blog (já agora…) + muitos textos escritos com a Ju, a Sarinha e o João;
10- Galé (e isto com uma lagrimazinha de saudade ao canto do olho) + Aveiro;
11- Ajudar a que as actividades da Associação de Estudantes (AEEBSO) dêem certo;
12- Muitas visitas à patinagem, noites em casa da Princepeza (e o que lhes está inerente), muitos livros bons, chocolate quente, muitos filmes de chorar do princípio ao fim, abraços grátis, abraços de borla, abraços (simplesmente), comoções, emoções, risos, gargalhadas, sorrisos. Lágrimas (por coisas boas), mimos, telefonemas engraçados, mensagens simpáticas, dedicatórias sentidas, galões e pães com chouriço, pessoas novas (aos montes), experiências novas (aos montes), chá, visitas de estudo, reencontros (com pessoas que não vejo há muito tempo e com algumas das que estão mesmo ao meu lado), uma passagem de ano tão boa como suponho que esta vá ser, apreender a tocar viola em condições, participar no espectáculo de ballet, apreender, divertir-me, amadurecer.

Estar muito tempo com as pessoas de quem gosto. Ser feliz.
Sejam também.

Friday, December 21, 2007

Cavalinho

De tempos a tempos, sinto uma súbita vontade de andar de triciclo. Subo ao sótão, transporto-o escada a baixo e sento-me nele, de olhos fechados. Roo as unhas até ao sabugo (latejam, latejam!) e deixo o tempo voltar para trás, em câmara lenta. Não gosto de tudo o que foi a minha infância – ainda assim, sinto uma falta terrível da minha visão do mundo. Agora, cresci e, paralelamente, cresceu também o desencanto. O triciclo é o meu elo de ligação com o passado. Transporta-me para o tempo em que os prédios eram monstros altos, em que existiam fadas, em que com ervas do campo todas as doenças eram curáveis e em que as luzinhas da árvore de natal eram mágicas.
É preciso ver que, nesse tempo, o meu triciclo era muito mais do que um brinquedo de plástico: na verdade, ele era um cavalo. Ou, melhor dito, um pónei. A minha capacidade de transformar a realidade era tão grande quanto a destreza dos meus dedos no que tocava a desmanchar tranças. Era só começar: a partir daí, quase nem me apercebia do que estava a acontecer.

Gostava de voltar a ter essa capacidade. Sinto-me roubada pelo crescimento: está-me a tirar muito mais do que o que me dá. Ou, talvez, as minhas expectativas de criança fossem muito elevadas. Seja como for, sinto falta. E as minhas pernas já não cabem no triciclo: o pónei, felizardo, é da Terra do Nunca – não cresce – e já mal aguenta o meu peso.

Fotografia: http://olhares.aeiou.pt/part_child_half_me/foto1639897.html

Monday, December 10, 2007

No carro

Estou no carro. As árvores passam a grande velocidade, transformadas em manchas de cor e movimento que os meus olhos não conseguem isolar e individualizar. De tempos a tempos, uma casa, um carro, uma pessoa à beira da estrada. São elementos que não ficam nem marcam: existem, simplesmente, tal como eu, e sei-o porque os vejo através do vidro do carro.
Cá dentro, está quente (tenho a sofage ligada). O termómetro, no vizor em frente ao volante, oscila entre os 3 e os 5 graus centígrados, o que significa que, lá fora, está frio. Será que as árvores o sentem? Estou numa realidade à parte, estagnada. O Mundo gira e passa por mim, ignorando-me e não se dignando, nem por mera questão de cortesia, a abrandar.
Ligo o rádio e deixo que a música ténue se sente nos bancos vazios. Largo a voz que, aos altos e baixos, tenta acompanhar a do cantor. Uma nota mais aguda rouba-me o fôlego. Travo a fundo e fecho os olhos.

Nota: Naturalmente que o que está em movimento é o carro – e, consequentemente, eu mesma. No entanto, não é isso que os sentidos nos dizem. Reiterando o óbvio, Alberto Caeiro foi um génio.