Tuesday, March 06, 2007

Criança (?) encantadora

Hoje tive a oportunidade de ouvir uma encantadora garota de 7 anos a falar dos seus problemas sentimentais.
A garota que, para além de encantadora é também inteligentíssima, dividiu-os em duas vertentes para me facilitar a compreensão.
Começou por aqueles que mais a atormentavam, os da amizade. Tinha-se chateado com a melhor amiga, aquela que sentia conhecer desde os primórdios da infância(?), por um motivo tolo. Não tinham chegado a consenso sobre um assunto qualquer. Mas o problema não foi esse, obviamente. Nem sempre chegamos a acordo com os outros, é preciso encarar isso com naturalidade. A dificuldade foi não terem aceite ouvirem-se uma à outra. Agarram-se àquilo em que acreditavam e não quiseram saber de mais nada. E agora, a minha pequena, arrependida, perguntava-se a si mesma por que razão será tão difícil dar o braço a torcer e pedir desculpa. Mas lá chegou à conclusão que o mais importante é sem duvida a amizade e garantiu-me que amanhã já vai falar com a amiga e resolver tudo. Afinal, a falar é que as pessoas se entendem, certo?

Havia ainda outra coisa que a atormentava… O rapaz a quem entregara a infância (a quem se entregara, por olhares, por sorrisos tímidos, nos dedos que entrelaçaram um dia, no rosto que teima em corar quando o vê, na inocência pura dos seus sete anos, tão bem vividos), já não parece o mesmo. Está estranho, já não lhe liga. Ela desconfia até que se interessou por outra menina da turma, que tem caracóis no cabelo. E a minha menina não quer outro rapaz: é daquele que ela gosta.
Perguntei-lhe: “quando gostavas dele e ele de ti, deixavas os amigos de parte, vivias para ele, o teu Mundo resumia-se à vossa relação?”. Atrapalhada, confusa com as minhas palavras de adolescente armada em esperta, respondeu qualquer coisa como “não, o meu Mundo começava aí”.

E eu calei-me. Que mais podia fazer, perante uma resposta destas? Sustive a emoção, apercebi-me que estou de facto a envelhecer. E passei o resto do dia mergulhada nos meus pensamentos. Será que a encantadora criança tem noção que as relações interpessoais não evoluem nada com o passar do tempo? Talvez não. Eu não tinha, mas era menos esperta do que ela. Sempre pensei que os adultos fossem mais…adultos! Mais maduros nas escolhas, no modo como lidam uns com os outros. Agora, à medida que me aproximo dessa desengraçada fase da vida, vou-me apercebendo que eles são bem piores do que a minha pequena. Se há coisa em que regredimos ao longo da vida é nisso.

Deixamos de ter adultos superiores a nós que nos mandem calar e pedir desculpas e, pura e simplesmente, deixamos de o fazer ou reduzimos o diálogo e a compreensão a certas e determinadas situações. Desenvolvemos a arrogância e a teimosia e vivemos com estas características como se fizessem parte de nós.
Mas como é politicamente correcto, os adultos passam a gritar em casa, entre paredes, escondidos do Mundo. As mulheres deixam o marido ou o namorado e sofrem desalmadamente, como se metade da alma lhes tivesse sido arrancada. Ou são deixadas, e ficam sem a alma toda. Lutam por bens que julgam seus por direito, como se essas coisas, coitadas, absolutamente desprovidas de valor, completassem o bocado interior que lhes falta.
E apoiam-se então nos amigos. Umas, apoiam-se efectivamente nos amigOs. Outras, mais pudicas talvez, buscam o ombro e os lenços das amigas e vestem-se de preto. Depois zangam-se, por um qualquer motivo absurdo (o egocentrismo da primeira, provavelmente, que só pensa na sua tragédia pessoal) e nunca mais se falam.

A minha teoria é que à medida que vamos crescendo vamos libertando a criança imatura e desconexa que há em nós. Se há pessoas a quem assusta a velhice, a mim assusta-me primordialmente a idade adulta.

6 comments:

Hugo da Graça Pereira said...

aninhas, apenas te digo que não tenho pressa nenhuma de chegar a essa fase desengraçada...mmo nenhuma...

Anonymous said...

Desconhecida Paixão

Teu sorriso mais que perfeito,
Mais do que consegue o melhor pintor,
É obra de arte sem defeito,
Mais puro que a mais bela flor.

Mas tu, meu sorriso iluminado,
Que olhas-te mas não viste,
Que eu estava mesmo a teu lado.
Agora é tarde. Tu já partis-te.

Recordo com admiração
O que tu fizeste nesse momento,
É como uma autentica canção,
Que se vai calando com o tempo.

Gostava de te rever,
Para ver se é só mesmo atracção,
Mas tenho medo de me perder,
Naquilo que receio ser grande paixão.

Anonymous said...

é olhaste e partiste.

Rosa dos Ventos said...

O pior mesmo é quando já nada nos assusta!
Ou será o melhor?
O que é que achas?
Bisous

Luisa Oliveira said...

Oh minha amiga, receio que seja o pior... mas é uma questao de opinião!

Anonymous said...

O teu blog ta mt fixe...parabéns! Estava de passagem e como vi este poema tao lindo nao resisti em deixar um comentariozito! Isto é que é criatividade...Continua com o bom trabalho no blog!