Saturday, July 01, 2006

Mutilação Genital Feminina _ Waris Dirie, uma flor em pleno deserto


Acabei agora o livro “Aurora no Deserto”, de Waris Dirie, continuação de “Flor do Deserto”, da mesma escritora. Os livros são basicamente um relato vivo e bem escrito da vida de uma menina nómada, que nasceu e viveu no deserto africano, mais propriamente somali, e que fugiu a um casamento com um homem que tinha idade para ser seu avô. Passou por provações desumanas até que se encontrou sozinha em Londres, sem falar inglês, sem dinheiro, parentes, amigos, comida… Parece, no entanto, que o destino lhe reservou uma missão maior que si mesma. Tornou-se uma modelo famosa e uma porta-voz dos horrores por que passam as mulheres do seu país. Descreve na primeira pessoa a pior das mutilações genitais femininas, a circuncisão faraónica ou infibulação, que consiste na extirpação do clítoris e dos lábios internos da vagina, sendo a ferida cosida, deixando apenas uma abertura do tamanho da cabeça de um fósforo para a menstruação e urina. As condições em que esta “cirurgia” é feita são absolutamente monstruosas. No caso de Waris, em pleno deserto, sem anestesia, com objectos cortantes que não foram esterilizados, feito por uma mulher sem formação, enfim, com todas as condições propícias aos vírus, infecções, doenças mortais. E o facto é que o número de vítimas desta prática é assustador.
No entanto, estes dois livros são maravilhosos de ler, na medida em provam que é possível amar um país sem, porém, concordar com as suas tradições. Waris pertence a África, à Somália, ao deserto. Ama aquele modo de vida nos mais ínfimos pormenores, ama aquelas pessoas e transmite-nos todo esse amor. Mas sabe que a evolução do seu país passa antes de tudo mais pela mudança de mentalidades. Enquanto os homens não aprenderem a olhar as mulheres como semelhantes, enquanto não perceberem que elas nascem assim por alguma razão e que mutilar não é purificar, enquanto todos os somalis não se unirem esquecendo clãs, a Somália continuará miseravelmente pobre e as condições de vida das populações continuarão tristemente más.

No Mundo as coisas também são um bocadinho assim. Enquanto os Homens não começarem a olhar as coisas como um todo, alargando o horizonte para além de países e nações, enquanto que não percebermos que somos todos Seres Humanos e lutarmos todos para o bem comum, o Mundo não avança. Se fomos capazes de pôr um homem na Lua, então também somos com certeza capazes de acabar com a guerra, com a fome, com a pobreza mundial.

Waris foi nomeada, 1997, embaixadora da ONU para os direitos das mulheres, na luta pela eliminação da prática da MGF.

4 comments:

Anonymous said...

O que é que se comenta depois de ler um texto destes?...é dificil...fica um nó na garganta, um aperto no coração...uma dor na alma! Toda estas injustiças e...(na verdade nem sei o que mais lhe chame...)existem mesmo!!!

Nos somos tão egoistas...ainda nos damos ao luxo de ficarmos "revoltados" com coisas tão...não diria insignificantes, mas talvez...superficiais. As vezes é preciso por uma pedra sobre certos assuntos e olhar para que é realmente mais importante!

P.S:Já te tinha agradecido por existires? BJ adorot

Anonymous said...

concordo com a carolina...estamos tãos fechados em nós que não sabemos relativizar as coisas! Contudo, acredito que as semelhanças que nos unem (Homem enquanto ser individual) são mais do que as diferenças que nos separam...

(p.s. abraço apertado para ti ana)

Luisa Oliveira said...

ora Joana! nao podemos? uma possa é que nao podemos! podemos tudo!

Anonymous said...

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