Sunday, May 27, 2007

Os nossos LOBOS

Todos temos lobos debaixo da cama ou dentro do armário. É esta a minha opinião sincera. Acontece que, depois de algum tempo de convivência, deixamos de os temer e passamos a coexistir com eles.

Dantes corríamos para a cama dos pais. Chorávamos, tapávamos a cabeça com os lençóis. Dormíamos com a luz acesa, abraçados à almofada ou a um daqueles peluches de pêlo macio.

Entretanto crescemos (e os lobos também) e fomos acumulando toda uma outra série de bichos, monstros mais ou menos assustadores com quem partilhamos as noites e os Domingos chatos. Mas estamos tão habituados a eles e eles a nós que chegamos a ter confiança para fechar a porta do armário ou espreitar para debaixo da cama e dizer: “Xiu, deixa-me dormir”.

Não que eles sejam inofensivos, claro. Continuam a ter garras e dentes afiados. E obviamente não deixaram de rugir e uivar para aprenderem a miar. Mas estão mais mansos: chegam a ronronar quando lhes passamos a mão pelo dorso.

Um novo lobo é sempre difícil de domesticar. Salta-nos em cima a meio de um sonho, dá-nos murros que se traduzem em olheiras escuras e profundas, arranca-nos os cabelos um a um (ou pinta-os de branco), faz-nos bater com a cabeça nas paredes. No fundo, acrescenta-nos um pouco mais de loucura. Mas continuamos a ser nós os seres racionais que, mais tarde ou mais cedo, ganham a luta.

É um círculo vicioso. Lobo atrás de lobo, monstro a monstro, fera a fera, construímos um caminho que nunca chegamos a perceber bem qual é. Agigantamo-nos, aumentamos, amadurecemos. O que não podemos mesmo é deixar de querer procriar lobos. Porque no dia em que isso acontecer, morremos por dentro.

Como o Pedrinho me perguntou (e que bem perguntado Pedrinho!): “quando conseguimos o que queremos, será que ainda queremos o que conseguimos?”. Claro que não. Queremos sempre mais, e ainda bem que assim é (desde que a ambição não seja desmedida). Porque no dia em que dissermos, definitivamente, “estou bem assim, não faço mais nada”, conformamo-nos. E o conformismo é, definitivamente, um veneno coercitivo.

(No entanto Pedrinho, ficamos muito felizes quando conseguimos o que queríamos. E matamos uns quantos lobos rebeldes).

6 comments:

Anonymous said...
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Anonymous said...

pior se ao nao conformar, nunca mais conseguir chegar ao proximo "degrau" para nos conformarmos. e depois pensamos: "devia de ter ficado por ali".
posso estar nessa situação, mas pra isso encontrei solução - sou feliz através do insistir, e não através do conformar. "quero mais!" ;-)

Lenin aka JR said...

Todos nós temos os nosso monstros de estimação.
Uns vivem debaixo da cama, outros na nossa imaginação.
Mas eles estão lá por uma razão...
Para nos ajudar a crescer e a definir aquilo que um dia nos tornaremos... quando formos grandes.
Por isso é bom que eles existam. Que sejam muitos e ferozes. Porque é no processo de domesticação que está o verdadeiro desafio. Quanto mais monstros se tornarem nossos amigos, melhor nos definimos enquanto pessoas e mais bem preparados ficaremos para os que irão, sem dúvida, aparecer no futuro.

O que interessa não é o objectivo final mas sim o caminho que percorremos para lá chegar.

Beijos.

Anonymous said...

buhh.

Rosa dos Ventos said...

Debaixo da cama ultimamente só encontro pó e dentro do armário roupa que não me serve!
;-))

Desculpa a brincadeira no meio de um assunto tão sério!

Hugo da Graça Pereira said...

epa, seguindo o pensamento da nossa cara rosa dos ventos, provavelmente o pó acumulado e as roupas que não te servem hão-de ser os teus grandes lobos quando cresceres!! =P esses e mais um outros que já te expliquei estarem inerentes à carreira que vais seguir! =P
Epa, os meus lobos não me chateiam demasiado sabes. O truque é não lhes dares importância excessiva! A sua energia para lutar contra nós somos nós que lhes damos. Epa, é naquela, querem uivar? Uivem p'aí toda a noite, amanhã estão roucos e afónicos e quem se ri sou eu! =)