Thursday, January 25, 2007

A pequena história do Palhaço Triste


O palhaço triste deambula pelas ruas. Ri por fora, chora por dentro. Arrasta os pés, pressiona a mão contra o peito. A vida fez dele um “engraçado falso”, que passou pelas várias fases inerentes a este estado de espírito. A ingenuidade, a ordinarice (e não como sinónimo de comum) e, agora, a triste. As lágrimas verdadeiras encontram-se com a que tem pintada na face e o palhaço esfrega a cara, transformando-a num grande borrão. Despenteia os cabelos num acesso de raiva.

“Olha o mostro!”, exclama a criançada.

Já mais calmo, pega no lenço de pano de assoar o nariz e limpa o rosto, concerta os suspensórios, conta as rugas e pinta um sorriso de verdade no coração.

De palhaço triste a monstro e de monstro a menino.

2 comments:

maçã said...

Eh lá, tenho uma prima escritora!!! Tou a gostar de ver :)!

Anonymous said...

"Está decidido. Vou colocar o sorriso ao pé das escadas e ser palhaço a vida inteira. Que não há dia mais conseguido que esse, que te borra a maquilhagem com a saliva de um sorriso. E te faz de mansinho rei do único reino: o que mora na imaginação... das crianças. Ser duende esbranquiçado no dente preto, ser dono dos pózinhos de perlimpimpim que lhes fazem esvoaçar a cara e o riso. Ser ainda menino e povoar-me de reis e acrobatas. Ser a encarnação da ternura quando nos desvairados me gritam para dentro dos mais intimos sentidos:

-Frasco!
E eu subentendo, faz-nos rir, dá um trambolhão. Perdido de comoção e gargalhadas acabo por fazer a ambos as vontades. A eles e a mim. Rebolo-me entre as palmas e o riso sincero de quem vê um adulto a fazer deles. Como acham que me pareço, se os faço rir? Ahhh, mas também os vejo tristes, quando o palhaço se desfaz no homem e chora!

Reconhecem-me como um deles, e eu acredito!"

António Lains Galamba (meu querido irmão) in As gentes e as arestas